A corrida é um esporte que vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. Principalmente durante o período da pandemia, quando as pessoas procuravam uma prática de atividade física ao ar livre enquanto os ambientes de academias e estúdios mantinham-se fechados.
Mesmo quando não tínhamos a pandemia, a corrida já vinha ganhando cada vez mais espaço no dia-a-dia das pessoas. Entretanto, acompanhando o crescimento dessa prática esportiva, ocorreu também o aumento substancial das lesões decorrentes desse esporte.
Embora seja um esporte “fácil” e “barato” de realizar, a corrida, assim como qualquer modalidade esportiva, precisa de cuidados e acompanhamento profissional para que o atleta, seja ele amador ou profissional, consiga manter-se ativo durante vários anos sem a necessidade de interrupção do exercício devido a uma lesão.
As lesões em corredores são bastante comuns e afetam principalmente os membros inferiores. E o joelho é a articulação mais afetada entre os corredores. Há vários tipos de lesão envolvendo o joelho do corredor, entre as mais comuns destaca-se a Síndrome da Banda Iliotibial. E é sobre ela que iremos conversar hoje.
Quer saber de todos os detalhes? Continue lendo a matéria!
O que é a Síndrome da Banda Iliotibial?
Definição
O local da dor referida pelo paciente é bastante característica: geralmente a dor concentra-se na extremidade distal da parte lateral do joelho.
Essa dor é exacerbada principalmente quando o paciente realiza o movimento de flexo-extensão do joelho, ou seja, quando o membro inferior parte de uma flexão para a extensão completa.
Por muitas vezes, essa síndrome relaciona-se a sobrecarga na região do joelho, que pode ser decorrente de fatores extrínsecos e/ou intrínsecos como:
- Volume de corrida semanal;
- Volume de treinamento;
- Sobrecarga articular do joelho durante o trabalho ocupacional do corredor;
- Alteração mecânica da articulação do joelho;
- Diminuição de flexibilidade muscular, entre outros fatores.
Etiologia
Existem opiniões divergentes em relação a etiologia da Síndrome da Banda Iliotibial.
Uma das teorias mais aceitas sugere que ocorra uma compressão da banda distal do feixe no local em que se insere no periósteo através do epicôndilo lateral. Lembrando que essa área é rica em gordura, vasos sanguíneos e nervos, sendo altamente sensível a irritações. A compressão contínua irrita e inflama essa área, causando assim o processo álgico.
A segunda teoria preconiza que ao invés de compressão, ocorre fricção do feixe da Banda Iliotibial. Essa fricção constante da banda distal do feixe com o epicôndilo lateral do fêmur que ocorre durante o movimento de flexão do joelho gera um atrito que irá irritar o tecido.
Quadro clínico da Síndrome da Banda Iliotibial
A dor geralmente é produzida quando o joelho se estende de 90º a aproximadamente 30º, coincidindo com o principal momento em que a banda iliotibial é comprimida contra o epicôndilo femoral lateral.
Principais tipos de tratamento
Antes de iniciarmos a discussão do tratamento para a Síndrome da Banda Iliotibial, é importante ressaltar que o fisioterapeuta não deve seguir “receitas de bolo” para qualquer tratamento de qualquer patologia.
O profissional deve sempre basear suas condutas na avaliação fisioterapêutica que realizou previamente no paciente. Dessa forma, abaixo seguem apenas sugestões gerais de técnicas e métodos para o tratamento dessa síndrome.
Anamnese e exame físico
Esse é o momento em que se deve coletar o máximo de informações do paciente:
- Queixa principal;
- História familiar;
- Lesões prévias;
- Tratamentos;
- Ocupação, etc.
No exame físico é importante avaliar força e flexibilidade musculares, mobilidade articular, posturas estáticas, posturas dinâmicas (durante agachamentos, saltos, etc.)
Avaliação Biomecânica da corrida
É importante realizar a avaliação biomecânica da corrida do paciente corredor com queixa clínica de Síndrome da Banda Iliotibial.
Nessa análise é importante observar principalmente se ocorre exacerbada queda da pelve durante a corrida, aumento da adução do joelho (valgismo dinâmico durante a corrida) e rotação interna do quadril.
Essa avaliação pode ser realizada através de métodos rebuscados como a análise 3D do movimento ou através de análise qualitativa oriunda de imagens e vídeos geradas pelo celular, por exemplo.
Além disso, é importante lembrar que devemos avaliar o paciente como um todo, não apenas tentando observar as alterações sugeridas acima, mas também outros movimentos que possam interferir na mecânica da banda iliotibial durante a corrida.
Condutas para tratar a Síndrome da Banda Iliotibial
Terapia manual
A terapia manual pode ser de grande valia no tratamento da Síndrome da Banda Iliotibial.
Com evidências de que essa síndrome seja decorrente de deformação e espessamento do tendão distal devido a sobrecargas, as técnicas de terapia manual são muito indicadas localmente.
Além disso, devido à proximidade dessa estrutura em relação à músculos como Bíceps Femoral, Vasto Lateral, Tensor da Fáscia Lata e Glúteos Médio e Máximos, as mobilizações miofasciais desses músculos também podem ajudar e muito no tratamento da Síndrome da Banda Iliotibial.
Nesse momento, pode-se abordar a extensibilidade muscular da cadeia iliotibial lateral, usando por exemplo, a liberação de pontos gatilhos, agulhamento a seco, mobilização de tecidos moles (com uso de instrumento assistido conforme indicado ou manualmente) e alongamentos, no intuito de liberar e aumentar a extensibilidade dos tecidos ao redor do ponto de lesão. Os pontos de inflamação e fibrose locais da banda iliotibial, uma vez que cruza o epicôndilo lateral e se liga ao retináculo lateral, também devem ser tratados com técnicas e modalidades manuais para controlar a inflamação e o quadro álgico, conforme necessário.
Se o fisioterapeuta detectar disfunções lombo-pélvicas no corredor durante a avaliação, as técnicas manuais também devem abordar essas alterações.
Exercícios terapêuticos para tratar a Síndrome da Banda Iliotibial
Alguns estudos vêm encontrando diminuição da força de abdução do quadril em pacientes corredores com quadro de Síndrome da Banda Iliotibial. Adicionalmente, a literatura vem percebendo que o fortalecimento da musculatura abdutora do quadril é uma parte fundamental do programa de reabilitação desses pacientes, mostrando melhora na dor e função desses corredores.
Melhora também foram observadas com o treinamento dos rotadores externos do quadril, com ênfase no treinamento excêntrico desses músculos, uma vez que as tensões nesses músculos ocorrem principalmente na fase de desaceleração da corrida.
Não podemos esquecer que, além do trabalho de fortalecimento sugerido nos grupamentos musculares citados acima, devemos acrescentar o fortalecimento funcional dos mesmos, ou seja, devemos incluir treinos de corrida associados para estimular a ativação desses músculos durante a função que queremos reparar.
Reeducação neuromuscular
É importante o treinamento de controle do quadril durante a deambulação primeiro, evoluindo para o controle do quadril durante a corrida, sendo bastante importante para a evolução do paciente.
Trabalhos com feedback visual, ou seja, colocando o paciente para ver e “consertar” a queda do quadril dele durante a marcha/corrida, pode ser uma ferramenta útil nesse momento.
Conclusões
A Síndrome da Banda Iliotibial ocorre predominantemente na fase de apoio da corrida. A avaliação da corrida, assim como dos fatores extrínsecos relacionados ao esporte praticado (aumento de quilometragem corrida por semana, treinamento, tipo de terreno, calçado, etc) são cruciais para o planejamento do tratamento.
É importante também avaliar a força e extensibilidade muscular, além dos padrões de referência do ponto de gatilho da musculatura circundante anexada à banda iliotibial. As questões de alinhamento secundário da cadeia lombo-pélvica devem ser avaliadas e tratadas conjuntamente.
A terapia manual pode ser importante no manejo dos pontos de inflamação, restrição miofascial, pontos-gatilho ativos e disfunções lombo-pélvicas. A terapia manual deve ser usada em conjunto com uma prescrição de exercício específico, progredindo a intensidade e dificuldade dos mesmos, sucedendo a isso um retreinamento de movimento de impacto mais alto com o objetivo geral de retornar à corrida.
Referência
Mellinger, S., & Neurohr, G. A. (2019). Evidence based treatment options for common knee injuries in runners. Annals of translational medicine, 7(Suppl 7).