Durante muito tempo as pessoas tinham o costume de relacionar a dor da osteoartrose de joelho (OA) ao movimento. Com isso, inúmeros pacientes tinham medo de realizar exercícios durante a reabilitação e, consequentemente, o fisioterapeuta acabava por realizar apenas recursos eletrotermoterapêuticos e terapias manuais durante as sessões.
Entretanto, hoje sabemos que um programa de exercícios físicos deve ser inserido o quanto antes no planejamento da reabilitação desses pacientes. O exercício físico é considerado ferramenta essencial para o sucesso do programa de reabilitação do paciente que apresenta osteoartrose de joelho.
Abaixo vamos conversar sobre uma sugestão de três tipos importantes de exercícios para essa condição patológica. Antes, iremos recordar um pouco dessa clínica.
O que é osteoartrose?
A OA é uma doença articular degenerativa, de caráter progressivo, não inflamatória (lembrem-se disso!!!), e que tem como característica a degradação da cartilagem articular, podendo apresentar alterações também no osso subcondral.
Quadro clínico da osteoartrose
Dependendo do grau de comprometimento, o paciente com OA pode ter limitações de movimento, dor, rigidez articular, perda de força muscular e instabilidade articular que podem levá-lo à perda da função, tornando suas atividades de vida diárias difíceis de serem concluídas.
Todo esse quadro de limitação funcional pode gerar sintomas de ansiedade, depressão e raiva nos pacientes, dificultando ainda mais a abordagem terapêutica.
Epidemiologia da OA
Apesar de “popularmente” as pessoas relacionarem a OA à idade, acreditando que essa condição é exclusiva de pessoas idosas, é importante salientar que essa não é uma situação verdadeira.
Acredita-se hoje que a doença não resulta do processo de envelhecimento apenas, mas também de mudanças bioquímicas e estresse biomecânicos que afetam a cartilagem articular, podendo acometer também pessoas jovens e ativas.
Alguns fatores, além da idade, também podem ter relação com a incidência da OA, como por exemplo a história familiar, obesidade e hipermobilidade articular. Em adição a isto, fatores biomecânicos locais, como anomalias congênitas, trauma e os acidentes de trabalho também influenciam no aparecimento da doença.
Reabilitação da osteoartrose de joelho
Ainda vemos com frequência pacientes que temem realizar exercícios, muitas vezes por sentirem medo de aumentar o quadro álgico.
Como resultado disso, vemos fisioterapeutas que utilizam frequentemente apenas eletrotermoterápicos e terapias manuais para tratar a osteoartrose. Entretanto, é importante lembrar que o “carro-chefe” de um programa de reabilitação de sucesso nos pacientes com OA são os programas de exercício físico, pois somente com eles conseguimos reaver e, principalmente, manter a funcionalidade do paciente.
É claro que as outras modalidades de tratamento têm seu valor, têm seu momento de serem utilizadas (pois lembramos que em quadros álgicos agudos, dificilmente o paciente conseguirá realizar exercícios). Mas logo que o paciente progride, a inserção dos exercícios físicos deve ser iniciada, sempre de forma lenta e progressiva, dentro do limite da dor do paciente.
Programa de exercícios físicos para paciente com osteoartrose de joelho
Abaixo vamos conversar um pouco sobre três fundamentos importantes no planejamento do programa de exercícios físicos do paciente com osteoartrose de joelho.
1. Fortalecimento muscular
Algumas linhas de pensamento colocam o quadríceps femoral como o principal músculo a ser trabalhado nos pacientes com OA de joelho. Mas devemos levar em consideração que a articulação do joelho sofre influência de diversos outros músculos como os ísquios crurais, o psoa maior, glúteos máximo e médio, gastrocnêmios, tensor da fáscia lata, adutor longo, adutor curto, grácil, adutor magno e sartório, por exemplo.
Por isso, antes de iniciar um programa de reabilitação baseado em exercícios, é importante e imprescindível realizar uma avaliação física do paciente para entender qual grupo muscular deve ser priorizado naquele momento no treino de força, pois nem sempre o “vilão” da osteoartrose de joelho é o quadríceps femoral.
Além disso, devemos lembrar que apesar da fraqueza do quadríceps estar associada a doença por gerar sobrecarga articular, um quadríceps muito forte também pode aumentar a força de cisalhamento e a força de compressão na articulação do joelho. Dessa forma é importante detectar desequilíbrios musculares e planejar um programa de exercícios que irá promover o reequilíbrio dessas estruturas.
2. Amplitude de movimento
A amplitude de movimento também é um quesito importante. Principalmente em pacientes com OA crônica, que podem apresentar encurtamentos musculares devido à imobilização ou à inatividade.
Pacientes com dor tendem a diminuir a mobilidade, podendo resultar em contraturas de cápsulas articulares e encurtamentos musculares adaptativos.
Portanto, incrementar o programa de reabilitação com exercícios que promovam flexibilidade são uma ótima iniciativa. Exercícios de alongamentos estáticos ou dinâmicos ou baseados na facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), por exemplo, são muito bem-vindos.
Mas é importante lembrar que também é necessária uma abordagem cuidadosa no programa de flexibilidade, pois a ideia é trabalhar alongamentos apenas nos grupamentos musculares que precisam de alongamento (assim como devemos trabalhar força apenas no grupo que precisa de força).
Dessa forma, destaca-se mais uma vez a importância da avaliação do paciente para entendermos a necessidade dessa intervenção.
3. Exercícios de equilíbrio e propriocepção
Teoricamente, a propriocepção pode ser definida como a percepção consciente ou inconsciente da posição das extremidades no espaço. Em pacientes com osteoartrose de joelho, há uma perda proeminente na propriocepção em comparação com indivíduos da mesma idade e sexo, sem a doença.
Foi demonstrado que a propriocepção prejudicada aumenta a insuficiência funcional, gerando prejuízo no mecanismo de deambulação do paciente. Dessa forma, a inclusão de exercícios de equilíbrio e propriocepção que ajudam a restauração neuromuscular auxiliam significativamente na recuperação funcional do paciente.
Dentro do programa de reabilitação deve-se incluir exercícios que trabalhem a propriocepção, o equilíbrio e a cinestesia com exercícios de apoio unipodal, exercícios na cama elástica, exercícios em que o paciente executa movimentos de olhos fechados, em plataformas instáveis, etc.
Conclusão
Mais importante do que o diagnóstico clínico de osteoartrose de joelho, é a observação da avaliação funcional do paciente.
Através da avaliação o fisioterapeuta se guiará para formular um programa de treinamento físico com enfoque no grupamento muscular adequado, incluindo nesse programa exercícios de caráter progressivo de alongamentos (naqueles grupamentos que precisam de flexibilidade), exercícios de fortalecimento (para aqueles que precisam fortalecer) e exercícios de equilíbrio e propriocepção. Além de outros recursos que o fisioterapeuta julgar necessário para aquele paciente.
Lembrando que a intervenção é sempre individualizada, portanto esse texto não trata de protocolo nem “receita de bolo” para OA, mas trata-se de um texto que apresenta algumas sugestões de intervenção para pacientes com OA de joelho.
Referências
Direkoglu, D., Aydin, R., Baskent, A., & Celik, A. (2005). Effects of kinesthesia and balance exercises in knee osteoarthritis. JCR: Journal of Clinical Rheumatology, 11(6), 303-310.
Rocha, T. C. Ramos, P. D. S., Dias, A. G. Martins, E. A. (2020). The Effects of Physical Exercise on Pain Management in Patients with Knee Osteoarthritis: A Systematic Review with Meta Analysis. Revista brasileira de ortopedia, 55(5), 509-517.