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Sabe-se que a principal função do sistema nervoso é a condução dos impulsos nervosos e a arquitetura dos trajetos nervosos do nosso corpo, conferidos por sinapses e neurotransmissores. Isto constrói nossos caminhos neuronais e projeta todas as informações em caminhos ascendentes e descendentes, de forma elétrica e química. Porém, o que pouco se discute é o fato de que, para que tudo isto aconteça, é necessário um verdadeiro sistema de fios condutores, que tem como função unificar todo o sistema nervoso. Como cita o estudioso Vasconcelos et al, 2011, para esta funcionalidade utilizamos o termo denominado neurodinâmica. Portanto, hoje, iremos abordar uma forma de tratamento de lesões físicas que envolve esta área do corpo humano; estamos falando da mobilização neural.

A função do sistema nervoso

Consideramos que o principal papel do sistema nervoso é conduzir os impulsos nervosos ao longo de um sistema complexo de movimento. Assim, estes impulsos terão que se adaptar em termos mecânicos e proteger o sistema inteiro frente a compressões e trações. Logo, para isso, o sistema nervoso deverá se adaptar pelas suas propriedades mecânicas (movimento e tensão) ao mesmo tempo que realiza sua função a de transmissão de impulsos.

Portanto, sem a integridade deste sistema mecânico, a transmissão de impulsos nervosos e todo o controle do corpo é comprometido –  e isto é algo pouco discutido até então. Então, para a verdadeira interpretação deste achado, ou seja, a união dos aspectos mecânicos e fisiológicos do sistema nervoso, o termo neurodinâmica foi introduzido. Sendo assim, ao considerar que o sistema nervoso apresenta normalidade neurodinâmica, estamos dizendo que suas propriedades mecânicas e fisiológicas se encontram em estado normal.

O que é Mobilização Neural

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O conceito da técnica de Mobilização Neural é devolver a neurodinâmica deste sistema, através de movimentos passivos e ativos. Estes movimentos advém da interpretação de testes neurais específicos, os quais mostram qual o comprometimento mecânico deste sistema. Logo, o profissional da saúde deve analisar a situação de forma clínica e, assim, escolher o tratamento adequado. Esta técnica foi desenvolvida a partir dos avanços da neurobiologia, biomecânica e fisiologia do tecido neural e da aplicação dos princípios da terapia manual neste tecido. 

A primeira obra literária que aborda o assunto da mobilização neural foi publicada em 1960 por Alf Breig, em Biomechanics of the Central Nervous System (Biomecânica do Sistema Nervoso Central). Na pesquisa, o autor trata sobre os termos tensão mecânica adversa do sistema nervoso, o conceito de “neurobiomecânica”, e as relações entre a transmissão da tensão e o movimento do SN durante a realização dos movimentos do corpo.

Décadas depois, o fisioterapeuta australiano David Butler publicou o livro Mobilization of the Neurvous System (Mobilização do Sistema Nervoso), em que demonstrou a aplicabilidade e eficácia da técnica de mobilização do tecido neural, descrevendo o raciocínio clínico do tema.

Posteriormente, em meados de 1970, os testes de tensão neural começaram a ser reconhecidos como processo de avaliação e terapia, denominados também de testes de estiramento neural. Estes tipos de testagens são sequências de movimentos que, para serem considerados positivos, o paciente precisa apresentar sintoma doloroso e diminuição da amplitude de movimento quando se realiza o alongamento profundo, o qual envolve o trajeto neural.

Biomecânica neural e a fisioterapia

Segundo Almeida e Andrade (2011), a técnica fisioterapêutica de mobilização neural trata essencialmente da aplicação clínica da mecânica e da fisiologia do sistema nervoso e da forma como elas se relacionam entre si. Também, estas duas partes são integradas à função do músculo esquelético. 

Conhecendo a fundo a biomecânica neural, saberemos que comprometimentos na fisiologia e na mecânica do sistema nervoso (movimento, elasticidade, condução, fluxo axoplasmático) podem levar a disfunções do sistema nervoso, assim como acontece em estruturas musculoesqueléticas por ele inervadas.

Por isso, recuperar a extensibilidade e a funcionalidade do sistema nervoso trará benefícios não somente ao próprio sistema, mas também proporcionará a recuperação das estruturas inervadas comprometidas.

Logo, perceba que esta nova definição da função do sistema nervoso, compreende todo o seu grau de funcionalidade. Assim, essa situação nos leva a refletir o quanto uma simples lesão pode agravar e trazer complicações para o corpo inteiro.

O que são distúrbios musculoesqueléticos?

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Distúrbios musculoesqueléticos são caracterizados por inflamações e/ou degenerações que acometem tendões, nervos, músculos, articulações e bursas. Estas lesões resultam em dor e incapacidade funcional. Hoje, distúrbios musculoesqueléticos são considerados um dos mais significativos e dispendiosos problemas de saúde pública, principalmente em relação à saúde do trabalhador . 

Embora há mais de um século se saiba que as desordens musculoesqueléticas apresentam origem neural, somente nos últimos vinte anos os fisioterapeutas com formação em ortopedia, interessaram-se no tratamento do sistema nervoso pela sua conexão com músculos, articulações e outras estruturas. Estes tratamentos podem ser realizados através da técnica de terapia manual.

Alternativas que aliviam tensões musculares, agindo de forma direta ou indireta na musculatura e envolvendo fáscias (conceito de cadeias musculares), já são conhecidas há tempos pelos profissionais fisioterapeutas. Porém, dentre essas técnicas, uma em especial tem se destacado por ser uma técnica essencialmente neural, interferindo no tecido muscular e na dor do paciente. Logo, esta técnica atua na mobilização do sistema nervoso. 

A mobilização neural na prática

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A mobilização neural tem sido bastante utilizada na recuperação de pacientes com distúrbio musculoesqueléticos. Ekstron e Holden, em 2002, utilizaram-na para a reabilitação de indivíduos com epicondilite, obtendo sucesso.

Para realizar o tratamento com a técnica de mobilização neural é necessário apenas uma maca, conhecimento teórico e treino do manuseio. As patologias que envolvem a biomecânica neural podem ser divididas de acordo com o estado da patologia, podendo se enquadrar em: irritável (fisiopatológica) ou não-irritável (patomecânico). Ao avaliar o paciente, sabemos que, embora as duas possam estar presentes ao mesmo tempo no indivíduo, há sempre o predomínio de uma dela. Logo, o estado dominante conduzirá o raciocínio do tratamento do problema.

O tratamento pela mobilização neural

As desordens neurais podem levar o paciente a dores constantes, que persistem por um bom tempo, apresentando por vezes episódios de dores noturnas, surgidas na madrugada. Essas dores, por envolverem disfunções na biomecânica neural, não surtem melhora com qualquer medicamento. 

Também sabemos que as desordens neurais crônicas não irritáveis, consideradas como patomecânicas, podem também transmitir complicações para outras regiões do corpo.

A escolha frente a aplicação direta da mobilização neural no local onde se encontra o tensionamento dos nervos periféricos e/ou medula é feita pelo avaliador. Manuseios passivos, de forma oscilatória, em diferentes amplitudes de movimento e/ou brevemente mantida no final da ADM articular aplicados através da articulação que compõem o trajeto do trato neural são realizados para aliviar a dor e devolver a extensibilidade no trajeto.

Quando temos a presença da dor aguda, a escolha do terapeuta acaba sendo feita pela mobilização indireta. Este tipo de mobilização envolve manuseio feito nos nervos periféricos e/ou medula, através de manobras oscilatórias aplicadas às estruturas adjacentes ao tecido nervoso comprometido.

Contudo, para um bom tratamento de mobilização neural, é importante atentar as partes do corpo com que esta técnica trabalha. Vamos a 3 principais: 

  • Tendões: os tendões são estruturas que têm a função de inserir o músculo ao osso, transmitindo a força gerada pelo músculo para realizar o movimento e cumprir a função de estabilização. 
  • Ligamentos: Já os ligamentos são estruturas de tecido conjuntivo que, através de uma que força tênsil, contribuem para a estabilidade da função articular, prevenindo que movimentos extrapolem o limite articular.
  • Articulações: As articulações são regiões ósseas cobertas e circundadas por tecido conjuntivo que mantém os ossos juntos, determinando o tipo e o movimento entre eles; e as bolsas são estruturas achatadas, intimamente associadas com algumas articulações sinoviais. Alinhadas com uma membrana sinovial e cheias de fluido sinovial, estas bolsas produzem pequenas quantidades de líquido, permitindo movimentos suaves, sem fricções entre músculos contíguos, tendões, ossos e ligamentos. 

Lesões musculoesqueléticas

Segundo Ribeiro (2012), as lesões musculoesqueléticas mais comuns acontecem na coluna e nos membros superiores do corpo. O local mais incidente destas lesões é, geralmente, a região lombar. Isso se deve a forte evidência de associação com levantar e/ou carregar cargas pesadas, a postura inclinada e rotação de tronco, trabalho físico pesado e vibrações. Já as extremidades superiores mostram evidências de associação com repetição, força e vibração. 

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Lesões musculoesqueléticas agudas ou condições crônicas que comprometem a estrutura ou a função dos tecidos musculoesqueléticos podem afetar amplamente o desempenho físico de um paciente, por causarem dor, inflamação, deformidade estrutural, restrições dos movimentos articulares, instabilidade articular e fraqueza muscular.

Há algumas décadas, fisioterapeutas começaram a identificar que patologias ortopédicas e reumatológicas envolviam o sistema nervoso periférico de forma direta ou indireta. Assim, os profissionais começaram a notar que muitos sintomas dos pacientes se originavam de agressões nos nervos periféricos. Logo, este assunto requeria mais estudo. 

O sistema nervoso nas disfunções musculoesqueléticas

SCHMIDT (2005) afirma que alguns estudos já informam sobre a influência do sistema nervoso nas disfunções musculoesqueléticas. Vasconcelos et al (2011), em uma de suas pesquisas, buscou verificar os efeitos imediatos da mobilização neural sobre o ganho de amplitude de movimento de extensão do cotovelo em indivíduos com tensão neural adversa do nervo mediano. 

Para esta pesquisa, foi utilizada uma amostra composta de 60 indivíduos voluntários sendo 19 do sexo masculino e 41 do sexo feminino. Por fim, a mobilização neural demonstrou-se como uma técnica eficaz para o ganho de amplitude de movimento em indivíduos assintomáticos.

Já na pesquisa de Boeing (2004), o estudioso procurava  verificar se a técnica da mobilização neural seria adequada para o tratamento das lombociatalgias. Logo, constatou-se que o protocolo utilizado foi eficaz para a redução do quadro doloroso, porém não se obteve resultados significativos para as alterações de sensibilidade e mobilidade da coluna lombar em flexão/extensão.

Monnerat & Pereira (2010) verificaram a influência da técnica de mobilização neural sobre a dor e incapacidade funcional na hérnia de disco lombar póstero-lateral. Eles notaram que a técnica pode ser eficaz no tratamento da hérnia de disco lombar por apresentar boa resposta terapêutica na regressão dos sintomas dolorosos e incapacidade funcional.

Demais pesquisadores e suas teses

Machado & Bigolin (2010), avaliaram o efeito da mobilização neural e do alongamento no quadro álgico e nas atividades de pacientes com dor na lombar. Pela análise dos resultados, tanto o programa de mobilização neural quanto o programa de alongamento muscular revelam melhoras na execução das atividades funcionais, na flexibilidade da cadeia muscular posterior e na redução do quadro álgico. Porém, vale ressaltar que somente o programa de mobilização neural obteve melhora estatisticamente significativa. 

Em sua revisão de literatura, Junior & Teixeira (2007) teve como objetivo levantar as indicações e aplicações da mobilização do sistema nervoso como recurso diagnóstico e terapêutico. Assim, os pesquisadores demonstraram a eficácia da técnica tanto para a avaliação quanto no tratamento das mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas. 

Conclusão

Portanto, a partir da análise de tantos estudiosos da área da saúde física, conclui-se que os distúrbios musculoesqueléticos necessitam de uma avaliação minuciosa e um correto diagnóstico para se obter melhora durante o seu tratamento.

O conhecimento da mobilização neural pelo fisioterapeuta permitirá que o profissional seja melhor capacitado para reabilitação de pacientes com comprometimentos musculoesqueléticos, pois de acordo com estudos já realizados, a mobilização neural promove resultados positivos no tratamento, diminuindo o quadro doloroso e restaurando a funcionalidade do paciente.

Abordagens unilaterais são a principal causa do insucesso do tratamento. Nenhuma técnica, método ou recurso por si só, é capaz de conferir a excelência de um atendimento, por isso investir na carreira e expandir o conhecimento é uma necessidade que deve ser reconhecida pelos profissionais da área.

Referências Bibliográficas

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BOEING, M. Análise da eficácia de técnicas de mobilização neural para pacientes com lombociatalgia. [trabalho de conclusão]. Cascavel: Universidade Estadual do Oeste do Paraná; 2004.

BUTLER, D. S. Mobilização do sistema nervoso. Barueri: Manole; 2003.

DUTTON, M. Fisioterapia Ortopédica – exame, avaliação e intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2007.

JUNIOR, O. H. F. de; TEIXEIRA, Á. H. Mobilização do Sistema Nervoso: avaliação e tratamento. Fisioterapia em movimento, Curitiba, v. 20, n.3, p. 41 – 53, 2007.

MACHADO, G. F.; BIGOLIN, S. E. Estudo comparativo entre a mobilização neural e um programa de alongamento muscular em lombálgicos crônicos. Fisioterapia em movimento, Curitiba, v. 23, n.4, p. 545 – 544, 2010.

MONNERAT, E.; PEREIRA, J. S. A influência da técnica mobilização neural na dor e incapacidade funcional da hérnia de disco lombar: estudo de caso. Revista terapia manual, v. 8, n. 35, 2010.

RIBEIRO, N. da F. et al. Distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadoras de enfermagem. Salvador, 2009. Rev. Bras. Epidemiol. n.15, v.2, p. 429-38, 2012.

SCHMIDT, R. F. A mobilização neural dos membros superiores e a sua influência na flexibilidade global. Tubarão, 2005. Disponível em:< http://www.fisio-tb.unisul.br/Tccs/RodrigoSchimidt/tcc.pdf > Acesso em 08 de novembro de 2020.

VASCONCELOS, D.de A., et. al. Avaliação da mobilização neural sobre o ganho de amplitude de movimento. Fisioter. Mov. n.24, v.4, p. 665-72, 2011.

ZAMBERLAN, A.; KERPPERS, I. l. Mobilização neural como um recurso fisioterapêutico na reabilitação de pacientes com acidente vascular encefálico – revisão. Revista Salus, Guarapuava- Paraná, v. 1, n. 2, p. 185 – 191, 2007.

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