Para poder melhor auxiliar os alunos e garantir seus resultados, é fundamental que os instrutores de Pilates tenham amplo conhecimento sobre os tipos de dor.
O IASP (Associação Internacional do Estudo da Dor) define a dor como “uma sensação sensorial e emocional desagradável associada ou não a uma lesão tecidual real”.
É importante frisar que a dor pode ser uma manifestação de uma patologia, mas isto nem sempre é uma regra, ou seja, não é necessário existir uma lesão.
Por exemplo: durante os anos de pandemia mudamos nossa rotina radicalmente, evitamos
lugares aglomerados, incluindo as academias e locais de prática de esporte coletivo, e conseguimos resolver muitas coisas sentados na frente do computador, não tínhamos mais horário para as refeições, e muitas vezes o nosso sono se alterou e o estresse aumentou.
Devido a todos esses fatores, as dores físicas aumentaram em grande parte da população. Desta forma, também houve um aumento da procura por exames de imagem e, em seguida, a descoberta de alterações fisiológicas e posturais, como a hérnia de disco.
Mas, será que todas as dores deste paciente, aquelas que o levaram a ser diagnosticado com hérnia de disco, tem relação com essa patologia?
A resposta é: nem sempre. Acredite, existem dores que podem ser inespecíficas e ter a autoconsciência de reconhecer e entender a experiência da dor, por isso, avaliar seu impacto físico e emocional é dever do profissional do movimento.
Precisamos entender isto para evitar a cinesiofobia nos pacientes e alunos. E é através do entendimento dos tipos de dor que conseguimos fazer isso. Neste artigo, vamos abordar as diferentes dores que o ser humano é capaz de experienciar, e entender qual é o papel do Pilates na sua resolução. Boa leitura!
Quais são os tipos de dor?
Os objetivos da identificação dos tipos de dor para todos os pacientes devem ser: atingir uma melhora da função somado a uma qualidade de vida. Assim, o desfecho desta pessoa que chega até nós, muitas vezes com indicação cirúrgica, pode mudar.
A dor pode ser categorizada em diferentes tipos com base em sua origem e mecanismo. Lembrando que a dor aguda e dor crônica são classificações temporais, isto significa que cada uma é determinada em um certo tempo, e não é sobre isso que falaremos, nem dores emocionais ou psicológicas.
Vamos discutir as diferentes formas que nosso corpo sente a dor, classificando-a em 3 tipos:
1. Neuroceptiva
Um dos principais tipos de dor é a neuroceptiva, que resulta da estimulação direta de receptores de dor (nociceptores) em resposta a lesões ou danos físicos, como cortes, queimaduras ou fraturas.
Este tipo de dor é normalmente localizado, bem definido e tende a diminuir à medida que o processo de cicatrização avança.
2. Neuropática
Outro tipo de dor é a neuropática, que ocorre devido a danos ou disfunção no sistema nervoso central ou periférico.
Em vez de ser causada por um estímulo externo, a dor neuropática resulta de uma falha na transmissão de sinais nervosos, levando a sensações como formigamento ou choques.
Um exemplo prático destes dois tipos de dor é a hérnia de disco. Consideramos dor nociceptiva pois a é devido a uma inflamação ou lesão nos tecidos ao redor do disco, como músculos e ligamentos. Esta inflamação ativa os nociceptores, resultando uma dor localizada nas costas.
E também consideramos a dor neuropática quando o disco deslocado pressiona um nervo, sendo o mais comum, o nervo ciático, causando uma dor que irradia para outras partes do corpo. Neste caso, a dor não vem diretamente de uma lesão tecidual e sim, de uma compressão ou irritação dos nervos.
3. Nociplástica
E o último tipo de dor, é chamada de neuroplástica, que não envolve diretamente uma lesão tecidual visível ou danos aos nervos. Ela se caracteriza como uma disfunção na forma como o sistema nervoso central processa e modula os sinais de dor.
O exemplo mais comum da dor nociplástica é a fibromialgia. Porém, sabemos que isto pode acontecer após condições que inicialmente envolveram recuperação de lesões ou de inflamação, e de alguma forma, houve uma sensibilização central.
Em casos assim, o cérebro perde a capacidade de “frear” a dor de modo eficiente, levando a uma mudança na neuroplasticidade, ou seja, pode se desenvolver após uma lesão ou condição inflamatória que altera a forma como o corpo processa e percebe a dor.
A dor nociplástica é uma dor real, não é uma ilusão do paciente, como muitos costumam dizer. A ciência comprova que o cérebro pode se tornar hiperativo para compreender a sua complexidade e atingir uma boa resposta com abordagens específicas.
Portanto, tendo em vista os diferentes mecanismos e tipos de dor, cada um deles precisa de uma interpretação individualizada.
Como educar os diferentes tipos de dor?
A informação e a educação dos tipos de dor é a chave para promover o autocuidado, por isto devemos ter uma abordagem terapêutica que visa aumentar o conhecimento dos pacientes sobre os mecanismos da dor e sua relação com o corpo, ajudando-os a entender melhor sua condição.
Esta educação tem como objetivo reduzir o medo e a ansiedade associada à dor, e como consequência, diminuir o uso de medicamentos.
A educação sobre a dor, quando aliada à prática de exercícios físicos, oferece inúmeros benefícios para os pacientes, pois ao entender como o movimento afeta a dor e como o exercício pode melhorar a função muscular e a mobilidade, eles se sentem mais confiantes.
Além disso, o exercício físico promove a liberação de endorfinas, melhora a circulação, reduz a inflamação, aumenta a produção de fatores de crescimento que ajudam na reparação dos tecidos, reduz estresse e regula como o sistema nervoso central, responsável por processar a dor.
Portanto, se realizado de acordo com o nível de condicionamento físico do paciente, o exercício físico gera um excelente resultado. E a abordagem que melhor se destaca nesse sentido é o nosso amado Pilates.
Importância do Pilates no alívio da dor
Antes de falar do Pilates, é necessário dizer que o ideal é que cada um busque pelo que melhor agrada, pois quando se fala dos tipos de dor, qualquer movimento deve ser encorajado, já que o sedentarismo é nocivo, aumentando o risco de lesões e doenças.
Mas já foi comprovado que o Pilates é a primeira escolha para o alívio da dor, especialmente em condições relacionadas ao movimento e postura, visto que o aluno geralmente não sofre impactos e foca na coordenação, precisão e controle motor dos movimentos.
O tratamento da dor através do Pilates envolve uma avaliação minuciosa e exercícios específicos para atingir os objetivos, como o aumento da força, a melhora da postura e aumento da mobilidade.
Mas, outro ponto importante é que os exercícios do Pilates são realizados em sintonia com a respiração, sendo assim, promovem também relaxamento e reduzem o estresse, a ansiedade e a tensão muscular.
Sua prática regular adaptada às necessidades individuais e supervisionada por um profissional qualificado pode proporcionar um alívio sustentado. Assim, o Pilates é seguro para o tratamento da dor e também para o trabalho de prevenção.
4 exercícios coringas para todos os tipos de dor
1. Posição do gato e vaca
Instruções: Em quatro apoios, faça a flexão e extensão da coluna em um movimento fluido, promovendo a mobilidade da região e fortalecimento do core. Repita 10 vezes.
2. Bridge
Instruções: Em decúbito dorsal, com os pés apoiados no chão, contraia os glúteos e os músculos do core e levante lentamente os quadris do chão, formando uma linha reta dos ombros aos joelhos. Volte à posição inicial e repita 10 vezes.
3. The Swan
Instruções: Em decúbito ventral, com as pernas estendidas, faça movimento de elevação do peito lentamente, empurrando com as mãos ao lado dos ombros.
Mantenha os quadris no chão, enquanto eleva a parte superior do tronco, sem forçar o pescoço. Volte à posição inicial, com controle e suavidade, e repita 10 vezes.
4. Perdigueiro
Instruções: Em posição de quatro apoios, com as mãos alinhadas com os ombros e os joelhos alinhados com os quadris, levante uma perna para trás, mantendo-a estendida e alinhada com a coluna.
Simultaneamente, estenda o braço oposto à frente. Abaixe o braço e a perna e repita o exercício 10 vezes, levantando a perna e o braço opostos.
Conclusão
No Pilates, independente dos tipos de dor dos pacientes e alunos, o objetivo é alcançado através de uma abordagem que se concentra na correção das adaptações musculares e na distribuição uniforme de cargas nas estruturas ósseas.
Mas, acima de tudo, buscamos desenvolver a consciência corporal durante os exercícios, gerando melhor condicionamento físico para as exigências do dia a dia e mantendo um estado de bem-estar físico e mental.
Sou formada em Fisioterapia, com especialização em Pilates, Fisioterapia Dermato-Funcional e Fisioterapia Neurofuncional, o que me proporcionou uma compreensão profunda do sistema nervoso e sua relação com a dor e o movimento.
Acompanhe meus próximos artigos e materiais educacionais para os novos profissionais do movimento e do Pilates. Até mais!