Os efeitos fisiológicos resultantes das propriedades físicas da água durante a imersão em piscinas terapêuticas auxiliam no controle de várias doenças, incluindo as doenças respiratórias crônicas.
A utilização da água com finalidade terapêutica é uma prática muito antiga e está sendo constantemente estudada pela ciência devido aos seus grandes benefícios para diversas populações e objetivos.
A hidroterapia promove uma série de alterações fisiológicas que abrangem os sistemas neuromuscular, metabólico e cardiorrespiratório.
Esses benefícios, somados às propriedades físicas da água, como sua temperatura e o movimento corporal, auxiliam no relaxamento muscular, no ganho de força cardiorrespiratória, na redução da dor, no impacto articular e nas limitações funcionais.
E como a água contribui para o controle das doenças respiratórias mais comuns? Isso é o que vamos descobrir ao longo deste texto. Boa leitura!
Quais são as doenças respiratórias mais comuns?
Asma
É uma das doenças respiratórias mais comuns na população. Ela é caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores (brônquios e bronquíolos) e por limitação variável do fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou por tratamento.
A reação inflamatória nas vias aéreas causa edema da mucosa com presença de secreção interna. Essa obstrução diminuirá a passagem do ar e provocará contração da musculatura lisa.
A asma resulta da interação entre a genética, exposição a ambientes alérgenos irritantes e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento dos sintomas.
A incidência da asma é maior entre os 2 e 10 anos de idade, com regressão na fase adulta, mas há uma tendência de retorno após os 40 anos.
Alguns fatores desencadeiam as crises, tais como:
- Exposição a alérgenos;
- Infecção do trato respiratório;
- Fumaça de cigarro;
- Exercício físico;
- Mudanças climáticas;
- Fatores emocionais;
- Predisposição genética;
- Hiperresponsividade;
- Etnia;
- Sensibilizadores ambientais;
- Poluição e condições de moradia;
- Limpeza local.
Os sintomas incluem episódios de sibilância na fase expiratória, falta de ar, dor no peito e tosse principalmente à noite ou pela manhã ao despertar.
Rinite alérgica
A rinite alérgica é uma inflamação aguda ou crônica devido a uma hiperresponsividade exagerada das vias aéreas superiores.
Os casos agudos, em sua maioria, são causados por vírus, enquanto os casos crônicos são determinados por exposição a fatores alérgenos.
Os sintomas incluem espirros, corrimento nasal aquoso, obstrução ou prurido nasal, coceira, tosse e quadros repetidos de sinusite. Os sintomas melhoram espontaneamente, e nos casos crônicos, pode ocorrer perda do paladar e do olfato.
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
A DPOC é uma doença caracterizada pela limitação progressiva do fluxo de ar nos pulmões, podendo ser prevenida, tratada e causar grandes repercussões sistêmicas.
Essa limitação é causada pela associação da doença dos pequenos brônquios (bronquite crônica obstrutiva) com a destruição do parênquima pulmonar (enfisema).
A bronquite causa tosse e expectoração por pelo menos três meses por ano, durante dois anos consecutivos, enquanto o enfisema pulmonar é uma doença que causa a destruição das paredes alveolares.
Fatores de risco:
- Tabagismo;
- Poluição, incluindo a fumaça de fogão a lenha;
- Exposição a poeiras e produtos químicos ocupacionais;
- Infecções respiratórias recorrentes na infância;
- Deficiências genéticas.
O que é a Hidroterapia?
A hidroterapia é uma prática que surgiu na Alemanha e, após conhecimentos empíricos, passou a ser reconhecida pela ciência como uma modalidade física que traz inúmeros benefícios, sendo comumente utilizada para o público idoso.
Para prescrever uma sessão de hidroterapia, é necessário compreender quais capacidades físicas devem ser trabalhadas, como força, resistência muscular, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória e composição corporal.
Algumas forças atuantes no corpo submerso no meio líquido são importantes para entender os mecanismos da água como prática de atividade física e no tratamento de doenças respiratórias.
Essas forças fazem com que o indivíduo reduza o peso hidrostático e, consequentemente, as forças compressivas que atuam nas articulações, principalmente nos membros inferiores, reduzindo o estresse e as lesões articulares.
A temperatura ideal da água deve estar entre 27ºC e 29ºC para estimular respostas positivas nos exercícios aquáticos.
Princípios físicos da água:
Flutuação
É a força que atua em sentido contrário à gravidade, conhecida como empuxo. Essa força contrária o acúmulo venoso nos membros inferiores, auxilia na redução de edemas e estimula a circulação linfática.
Pressão hidrostática
É a força exercida igualmente em todas as direções sobre o corpo. Portanto, quanto maior a profundidade em que o corpo se encontra, maior será a pressão exercida sobre ele.
Por exemplo, se a pessoa estiver em pé, a pressão hidrostática será maior na região de maior profundidade, ou seja, nos pés. Se a pessoa estiver deitada sob a água, em repouso, a pressão exercida será igual em todos os planos.
Essa propriedade auxilia na melhora da condição respiratória dos pacientes, pois oferece resistência à expansão torácica, aumenta o débito cardíaco e a diurese.
Refração
É a mudança da direção da luz ao entrar em contato com a água.
Densidade
É a relação entre a massa e o volume. Esse princípio determinará a capacidade do corpo de flutuar ou submergir em comparação com a densidade da água.
A densidade do corpo humano é menor do que a densidade da água, e por essa razão o corpo flutua. No entanto, essa relação pode variar de acordo com a composição corporal da pessoa; pessoas com maior quantidade de gordura flutuam com maior facilidade.
Turbulência
É o fluxo irregular das moléculas de água e esse princípio varia de acordo com a pressão e a velocidade através de um fluxo corrente.
Essa propriedade pode ser utilizada como massagem, provocando, por meio da pressão, o alongamento dos tecidos tensos e alívio da dor.
Viscosidade
É a fricção entre as moléculas do fluido que aderem à superfície do corpo que se move através dele, causando resistência ao seu movimento.
Hidroterapia para o tratamento de doenças respiratórias
O exercício físico deve fazer parte da rotina de qualquer pessoa, em qualquer idade. Ele auxilia no desenvolvimento musculoesquelético, no aprimoramento das habilidades motoras, facilita a inclusão social, melhora a autoestima e a qualidade de vida.
A hidroterapia é um recurso que pode ser aplicado com fins terapêuticos e de condicionamento físico, trazendo inúmeros benefícios aos praticantes.
Ela utiliza os efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos para auxiliar na reabilitação em diversos contextos, principalmente no tratamento de doenças respiratórias.
Exercícios realizados na água promovem aumento do volume sanguíneo na região central do corpo, facilitando a redistribuição dos fluidos extravasculares e resultando na diminuição de edemas.
Além disso, esses exercícios servem como exercícios respiratórios em algumas doenças respiratórias. A água exerce compressão na caixa torácica e no abdômen, o que faz com que o diafragma se desloque cranialmente, aumentando em até 65% o trabalho respiratório.
Como resultado, há melhora da capacidade aeróbica e trocas gasosas mais efetivas. Esses fatores são muito importantes para o controle da maioria das doenças respiratórias crônicas em pessoas com problemas respiratórios.
Benefícios da hidroterapia para doenças respiratórias:
- Diminuição do quadro inflamatório das vias aéreas;
- Melhora do condicionamento físico e da força muscular dos músculos respiratórios;
- Redução dos sintomas e intensidade das crises;
- Melhora da qualidade de vida.
Conclusão
Os exercícios realizados na água proporcionam inúmeras respostas fisiológicas devido às forças atuantes no corpo imerso na água.
Essas respostas positivas resultam em um melhor funcionamento dos sistemas circulatório, respiratório e renal, extremamente importantes para indivíduos que apresentam doenças respiratórias crônicas.
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