O core, também conhecido como “power house” (casa de força, em português) é definido como o complexo de 29 músculos da região lombo-pélvico-quadril. Ele é o nosso centro de gravidade e a região a partir da qual começam todos os movimentos. Mas você sabe exatamente quais são os músculos do core e como cada um funciona?
Continue lendo para descobrir!
Anatomia funcional
Considera-se que um core eficiente é capaz de permitir a manutenção da relação comprimento–tensão normal entre os músculos agonistas e antagonistas funcionais. Assim, ele mantém a artrocinemática ideal desse complexo durante os movimentos.
Essa maior estabilização proporciona maior eficiência neuromuscular, permitindo a aceleração, desaceleração e estabilização dinâmica ideais durante movimentos funcionais. Além disso, ela também proporciona estabilidade proximal para movimentos eficientes dos membros inferiores e superiores.
Para entendermos perfeitamente o funcionamento do core e sua importância, vamos fazer uma revisão da anatomia muscular funcional de cada uma das regiões que envolvem esse conjunto. Portanto, falaremos sobre os músculos lombares, abdominais e do quadril.
Veja abaixo como funciona cada um dos músculos do core!
Anatomia dos músculos do core lombares
Quando falamos sobre os músculos do core da região lombar, temos que os mais importantes são: transverso espinhal, eretor da espinha, quadrado do lombo e latíssimo do dorso. Abaixo, vamos explicar brevemente quais as principais funções de cada um deles.
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Transverso espinhal
O grupo transverso espinhal inclui os músculos rotadores, interespinhais, intertransversais, semi espinhais e multífidos. Esses músculos são pequenos e possuem uma vantagem mecânica para contribuírem na movimentação: eles possuem principalmente fibras do tipo I e, portanto, são projetados para a estabilização.
Pesquisadores descobriram que o grupo dos músculos transverso espinais possuem de duas a seis vezes mais fusos musculares que os encontrados em músculos maiores. Por isso, tem sido estabelecido que esse grupo é responsável principalmente por fornecer informação proprioceptiva ao Sistema Nervoso Central.
Além disso, ele também responde pela estabilização inter segmentar e pela desaceleração excêntrica do movimento de flexão e rotação da unidade vertebral durante movimentos funcionais.
Os multífidos são os mais importantes dos músculos transverso espinais. Isso acontece pois têm a capacidade de estabilização intersegmentar para a parte lombar da coluna vertebral em todas as posições. Por exemplo: quando há uma ativação dos multífidos, há uma rigidez aumentada em L4 e L5.
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Eretor da espinha
Os principais músculos do core posteriores adicionais incluem o eretor da espinha, o quadrado do lombo e o latíssimo do dorso. O grupo muscular eretor da espinha, especificamente, funciona para fornecer estabilização intersegmentar dinâmica, desaceleração excêntrica de flexão e rotação do tronco durante atividades dinâmicas.
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Quadrado do lombo
O músculo quadrado do lombo, por sua vez, tem por função principal ser uma espécie de estabilizador em plano frontal que trabalha sinergicamente com o glúteo médio e o tensor da fáscia lata.
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Latíssimo do dorso
O latíssimo do dorso, por fim, tem o maior braço de momento de todos os músculos do core posteriores. Por isso, ele também gera o maior efeito sobre o complexo lombo-pélvico-quadril.
Anatomia dos músculos do core abdominais
Ao falar sobre os músculos do core abdominais, por sua vez, novamente abordaremos os mais importantes, que são: reto do abdômen, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome.
Os abdominais são compostos por quatro músculos que atuam como uma unidade integrada. Esta ajuda a manter a boa cinemática postural. Quando trabalham de forma eficaz, os músculos do core da região abdominal oferecem estabilização nos planos sagital, frontal e transverso por meio do controle de forças que atingem o complexo lombo-pélvico-quadril.
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Reto do abdômen
O músculo reto do abdômen desacelera a extensão e a flexão lateral do tronco excentricamente, além de agir na estabilização dinâmica durante os movimentos.
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Oblíquos externos
Os oblíquos externos, por sua vez, trabalham concentricamente para produzir rotação contralateral e flexão lateral ipsilateral, além de trabalharem excentricamente para desacelerar extensão, rotação e flexão lateral de tronco durante os movimentos funcionais.
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Oblíquos internos
Já os oblíquos internos trabalham concentricamente para produzir rotação ipsilateral e flexão lateral. Eles também trabalham excentricamente para desacelerar a extensão, rotação e flexão lateral.
Além disso, os oblíquos internos se ligam à camada posterior da fáscia toracolombar criando uma força de tensão lateral sobre a fáscia; isso gera uma estabilidade translacional intrínseca e rotacional da unidade vertebral.
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Transverso do abdômen
O transverso do abdômen é, provavelmente, o mais importante dos músculos do core abdominais, pois suas ações são direcionadas para aumentar a pressão intra abdominal. Isso fornece estabilização dinâmica contra o estresse rotacional e translacional na região lombar, possibilitando uma ótima eficiência neuromuscular para o complexo lombo–pélvico-quadril.
É importante citar, também, que pesquisas têm demonstrado que o transverso do abdômen trabalha em mecanismo Feed-Forward, contraindo sempre de forma antecipatória à iniciação do movimento dos membros ou de outros músculos abdominais, independentemente das direções das forças reativas.
Foi demonstrado que, tal qual o multífido, o transverso do abdômen permanece ativo durante os movimentos do tronco, sugerindo que este músculo tem papel importante na estabilização do mesmo.
Anatomia dos músculos do core do quadril
Por fim, quando tratamos dos músculos do core do quadril, temos que os mais importantes são os seguintes: Psoas, Glúteo médio, Glúteo máximo e os Isquiotibiais. Entenda como funciona cada um deles:
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Psoas
O músculo psoas é o responsável pela flexão do quadril e rotação lateral em cadeia aberta, bem como pela extensão lombar, flexão lateral e rotação em cadeia fechada. O psoas também desacelera de forma excêntrica a extensão e rotação medial do quadril, bem como a extensão e rotação medial do tronco.
Esse músculo ainda trabalha em sinergismo com os eretores da espinha superficiais e gera uma força de cisalhamento anterior entre L4 e L5. Os eretores da espinha profundos, multífidos e parede abdominal profunda neutralizam essa força.
Junto dos Glúteos mínimo, médio e máximo e do tensor da fáscia lata, o psoas forma um grupo de importantes músculos para o tratamento de escoliose.
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Glúteo médio
O glúteo médio age como estabilizador primário da pelve e do membro inferior no plano frontal durante os movimentos funcionais. Já durante movimentos em cadeia fechada, ele desacelera a adução e a rotação medial femoral.
Quando o glúteo médio está fraco, há um aumento de sobrecarga na articulação femoropatelar e sobre a articulação tibiofemoral. Esse quadro leva, ainda, à dominância sinergística do tensor da fáscia lata e do quadrado do lombo. Isso gera rigidez no trato iliotibial na parte lombar da coluna vertebral, afetando a biomecânica normal do complexo lombo-pélvico-quadril, da articulação tibiofemoral, e da articulação femoropatelar.
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Glúteo máximo
O glúteo máximo, por sua vez, é um dos músculos do core que age concentricamente em cadeia aberta para acelerar a extensão e a rotação lateral do quadril, além de agir de forma excêntrica para desacelerar a flexão do quadril e a rotação medial do fêmur. Ele também é o principal estabilizador dinâmico da articulação sacroilíaca.
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Isquiotibiais
Os músculos do core isquiotibiais agem de forma concêntrica para flexionar o joelho, estender o quadril e rodar a tíbia. Quando agem na forma excêntrica, eles desaceleram a extensão do joelho, a flexão do quadril e a rotação da tíbia.
Conclusão
Todos os músculos do core citados durante esse texto têm papéis muito importantes na estabilização dinâmica e controle neuromuscular para toda a região lombo-pélvico-quadril.
Todo esse complexo muscular têm sido muito estudado e reavaliado, de forma que se percebeu que os músculos do core são capazes não apenas de produzirem força (contrações concêntricas), mas também de reduzirem forças (contrações excêntricas) e são aptos a fornecer estabilização dinâmica em todos os planos de movimento.
Caso trabalhassem isoladamente, os músculos do core não conseguiriam uma efetiva estabilização do complexo lombo-pélvico-quadril. Apesar disso, o trabalho sinérgico aumenta toda a estabilidade e controle motor desse complexo.
Por causa da grande relação desses músculos com a coluna e devido à questão relacionada à estabilização, o trabalho de fortalecimento dos músculos do core tem sido largamente recomendado, especialmente para pacientes com dores lombares.
Mas será esse o melhor exercício para os casos de dores lombares? É o que você irá descobrir no próximo texto!
Referências
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Wilke HJ, Wolf S, Claes LE, Arand M, Wiesend, A. Stability increase of the lumbar spine with different muscle groups: a biomechanical in vitro study. Spine. 1995 Jan;15(20):192-8.
Esclarecedor
muito bom muito bem explicado parabéns me ajudou muito , li todo seu trabalho muitíssimo obrigada
Otimo site! Muito conteudo Interessante.
O glúteo mínimo não faz parte de todo esse complexo?