A hemodiálise é um procedimento onde uma máquina é utilizada para filtrar e limpar o sangue, funcionando como um rim. Os pacientes submetidos à hemodiálise passam por um processo de limpeza do corpo, retirando impurezas e substâncias prejudiciais para a saúde.
Apesar de contribuir para o tratamento dos pacientes, é necessário que ocorra uma avaliação da capacidade física do paciente para a realização da hemodiálise.
Entenda melhor sobre a capacidade física e funcional de pacientes submetidos à hemodiálise, continue a leitura!
O que é insuficiência renal crônica (IRC)
Caracteriza-se por lesão nos rins com perda progressiva e irreversível da função renal, o que leva à redução da capacidade de manter o equilíbrio metabólico e hidroeletrolítico. Com isso, os pacientes apresentam uma série de sinais e sintomas que dependem do grau de comprometimento renal, de outras condições subjacentes e da idade.
Quais são as manifestações da IRC?
Os pacientes com IRC apresentam manifestações neurológicas centrais, periféricas, gastrintestinais, endocrinológicas, metabólicas, infecciosas, dermatológicas e hematológicas. Além de sintomas como fadiga e dispneia, o que limita significantemente a vida desses indivíduos.
O que é hemodiálise (HD)?
É um procedimento invasivo, que substitui parcialmente a função do rim na tentativa de reverter os sintomas urêmicos e trazer a manutenção da vida para esse paciente. O sangue é processado em um circuito extracorpóreo, por meio de uma membrana (conjunto de filtros capilares) responsável por filtrar os resíduos e o excesso de líquido. Com o tratamento podem surgir diversos sintomas como câimbras, hipotensão arterial ou cefaleia.
Capacidade física e funcional de pacientes submetidos à hemodiálise
Capacidade física: definida como todas as qualidades físicas motoras passíveis de treinamento: resistência, força, velocidade, agilidade, equilíbrio, flexibilidade e coordenação motora (destreza).
Capacidade funcional: está associada ao grau de preservação da capacidade de realizar as atividades básicas de vida diária (ABVD), ou autocuidado, e ao grau de capacidade para desempenhar atividades instrumentais de vida diária (AIVD), convívio social, suporte familiar e independência econômica, interagindo de forma multidimensional.
Dessa forma a perda da capacidade funcional está intimamente ligada à ocorrência de fragilidade, dependência, risco aumentado de quedas, mortalidade e problemas de mobilidade, trazendo complicações ao longo do tempo.
Como avaliar a capacidade funcional de pacientes submetidos à hemodiálise
Pode ser avaliada por meio das atividades básicas e instrumentais da vida diária, também denominadas habilidades de mobilidade, e atividades de autocuidado.
Além do SF36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short – Form Health Survey) (Quadro 1) que é um questionário genérico, utilizado para avaliar a qualidade de vida de uma maneira geral, existe o Kidney Disease Quality of Life Short Form – KDQOL-SFTM Medical Outcomes Study (Quadro 2), instrumento mais atual e completo, que possui itens de aspectos genéricos e inclui tópicos mais específicos relativos a doença renal.
Quadro 1 – questionário SF-36
Quadro 2 – Versão traduzida do KDQOL-SFTM
Como avaliar a capacidade física de pacientes submetidos à hemodiálise
Uma maneira bem eficaz e simples de realizar a capacidade física desses pacientes é o Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M), recomendado pela American Thoracic Society.
É realizado ao longo de um corredor reto, com uma superfície dura e plana, de 30 metros de comprimento, marcada com uma fita adesiva a cada três metros, o paciente é orientado a caminhar o mais rápido possível, não sendo permitido corrida ou marcha a meio trote, durante seis minutos (Figura 1).
Durante o teste, o paciente podia diminuir a intensidade, parar e descansar se necessário, mas sem interrupção da contagem do tempo. Caso parasse para descanso, ele era motivado a retornar à caminhada o mais breve possível.
Foram realizados dois testes com intervalos de 30 minutos, sendo utilizado o teste com a maior distância percorrida em metros.
Figura 1 – Teste de caminhada de 6 minutos (TC6min)
Complicações da IRC
As complicações são causadas pela própria enfermidade renal, como miocardiopatia, neuropatia, desnutrição, hipertensão arterial sistêmica (HAS), depressão, outras alterações psicológicas e comportamentais relacionada à essa rotina da hemodiálise.
A HD promove uma maior sobrevida para esses pacientes, porém ao longo prazo traz inúmeras alterações que levam a diminuição da capacidade física e funcional do paciente.
A piora da condição física é multifatorial e está relacionada à restrição promovida pelo tratamento hemodialítico, como deterioração musculoesquelética, fraqueza, descoloração da pele, emagrecimento, edema, fadiga e alterações pulmonares (diminuição da capacidade de difusão, hipoventilação alveolar e hipóxia) promovendo uma redução do condicionamento cardiorrespiratório.
A reduzida capacidade cardiorrespiratória está associada à hipotrofia muscular em fibras do tipo I e II e diminuição da força muscular, sendo ainda influenciada por longos períodos de inatividade física – repouso prolongado devido ao sintoma expressivo de fadiga, o que leva a um progressivo descondicionamento físico. A capacidade de exercício em indivíduos com IRC pode ser de 50% em relação aos níveis esperados.
O edema causado pelo ganho de peso entre uma sessão e outra de hemodiálise, devido à retenção de líquido, causam cansaço, entre outras descompensações, prejudicando assim a capacidade funcional.
Além da inaptidão laboral a função cognitiva também é citada por muitos autores como um fator de risco para esses indivíduos comprometendo também as condições de vida.
Em relação à força muscular respiratória, os pacientes em HD apresentaram redução dos valores de pressão inspiratória máxima (Pimax) e pressão expiratória máxima (Pemax), que podem ser secundária na DRC. Em muitos estudos a miopatia urêmica tem sido a causa de redução da força muscular esquelética e do diafragma.
Conclusão
A fisioterapia com bases em um programa de exercícios físicos (resistidos e aeróbico) durante a HD, proporciona melhora significativa da capacidade física e qualidade de vida dos pacientes com IRC.
Mesmo com os inúmeros benefícios (físicos e funcionais) da fisioterapia, os pacientes com IRC em HD são caracterizados pela baixa tolerância em realizar exercícios e pelos sintomas de debilitação, muitos se recusam na realização dos exercícios devido a fatores psicológicos, desânimo pela sensação constante de fadiga, sendo os mais frequentes obstáculos ao exercício de aplicação de um programa de exercícios durante a HD.
Cabe ao fisioterapeuta proporcionar condutas diversificadas com a finalidade de melhorar as condições do paciente e promover uma melhor adesão aos programas.
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