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Durante muito tempo, o repouso era considerado tratamento de ouro para diversas patologias. Entretanto, após estudos, a mobilização precoce surgiu para desmistificar os benefícios do repouso e comprovar o quão importante é o paciente se manter ativo durante seu tempo de permanência no setor intensivo.

A imobilidade prolongada leva a repercussões deletérias ao sistema locomotor, gastrointestinal, urinário, respiratório e cardiovascular

A fraqueza adquirida na UTI é um agravo que tem uma incidência de, pelo menos, 25% a 33% e a baixa mobilidade apresenta-se como um dos fatores de risco. Nesse sentido, a mobilização precoce pode ajudar a reduzir as incapacidades funcionais dos pacientes com fraqueza muscular.

A mobilização precoce vem sendo utilizada no decorrer dos anos como uma intervenção eficaz para diminuir as consequências da fraqueza muscular que está relacionada com a doença. O exercício realizado de forma antecipada tem capacidade de reduzir o tempo de internação e melhorar a função respiratória.

Isso se dá pois ela é um conjunto de técnicas realizada o mais brevemente possível pelo fisioterapeuta dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Logo a estabilização clínica e hemodinâmica do paciente, o qual normalmente ocorre entre 48 a 72h após a admissão no setor.

Mas e você, que é da área da saúde, sabia que manter o corpo ativo, ou seja, utilizar as técnicas da mobilização precoce são vantajosas para os pacientes durante a reabilitação? Continue a leitura para entender mais sobre o assunto!

Benefícios da mobilização precoce para o tratamento no leito

A mobilização precoce visa evitar ou retardar os efeitos nocivos do repouso absoluto no leito, sendo o principal motivo da fraqueza muscular generalizada. 

Pacientes com longa permanência dentro do setor intensivo, assim como outras complicações como pneumonias, hipoxemia, embolia pulmonar e atelectasia são os que mais geram risco de vida.

Dessa forma, os principais objetivos da mobilização precoce corroboram para o:

  • Aumento da força muscular periférica e respiratória;
  • Manutenção do tônus e trofismo muscular;
  • Diminuição do tempo de internação no setor intensivo;
  • Redução do tempo de intubação;
  • Manutenção e aumento da coordenação motora;
  • Diminuição do risco de infecção hospitalar.

Mobilização precoce sem riscos para o paciente

Para que a técnica seja realizada de modo seguro e sem risco, é preciso seguir critérios de segurança. Dentre os critérios cardiovasculares, destaca-se seguro a Frequência cardíaca > 40 bpm <130 bmp, Pressão Arterial Sistólica < 180 mmHg > 90 mmHg e Pressão Arterial Média > 60 mmHg < 110 mmHg.

Além disso, também é necessário estabilidade hemodinâmica, ausência de droga vasoativa, de arritmia e de isquemia do miocárdio. 

Os critérios de segurança respiratórios englobam a Frequência Respiratória > 5 rpm < 40 rpm, saturação periférica de oxigênio (Sp02) > 88% e parâmetros de ventilação mecânica Fio2 < 0,6 e/ou PEEP < 10 cmH20. 

Os critérios de segurança neurológicos incluem ausência de alterações na Pressão Intracraniana (PIC), de coma e agitação, e de doenças neurológicas/neuromusculares que impeçam a realização da técnica de mobilização precoce

Vale ressaltar outros critérios, como, ausência de trombose venosa profunda, de hemorragia ativa, ausência ou aumento da temperatura corporal e fraturas ortopédicas instáveis. 

Portanto, além dos critérios clínicos e fisiológicos citados acima, muitas vezes fica restrito quanto a recursos humanos e materiais.

A sedação em grandes doses e o repouso demorado na cama acarretam complicações que afetam praticamente todos os órgãos e sistemas do corpo humano, além de se tornarem barreiras para a realização da técnica.

Tratando-se de obstáculos para a mobilização precoce, diversos fatores podem favorecer o retardo da sua implantação na rotina hospitalar, sejam eles modificáveis ou não.

As barreiras modificáveis são: 

  • Tempo limitado;
  • Número de membros da equipe;
  • Falta de um protocolo;
  • Pouco conhecimento;
  • Falha do planejamento e coordenação;
  • Ausência de equipamentos e dispositivos. 

Já as barreiras não modificáveis são: 

  • Gravidade da doença;
  • Instabilidade hemodinâmica;
  • Riscos para o paciente;
  • Riscos laborais para a equipe.

A intervenção fisioterapêutica motora é uma importante estratégia de prevenção da fraqueza muscular, além de evitar o excesso de sedação e delirium e potencializar a recuperação. 

Cabe salientar que pacientes em coma com Glasgow menor ou igual a 8, apesar de necessitarem de ventilação mecânica imediata, não possuem contraindicação para a realização da técnica. 

Assim como em diversas áreas de aplicabilidade da mobilização precoce, pacientes neurológicos necessitam de avaliação detalhada. 

Os nervos cranianos devem ser testados, como reflexo oculomotor, que avalia II e III nervos cranianos, e o reflexo oculocefálico, que avalia o III e o VI nervos cranianos.

A avaliação fisioterapêutica é indispensável antes de iniciar a mobilização precoce, observando os aspectos físicos do paciente, gravidade da doença, assincronias em ventilação mecânica, estado nutricional, dor, insuficiência respiratória, restrição ao leito e instabilidades hemodinâmicas. 

O fisioterapeuta exerce grande impacto no processo de despertar diário do doente crítico, pois é nesse momento que se torna possível a avaliação da força muscular, a realização do teste de respiração espontânea (TRE), além da mobilização de forma ativa.

Essas intervenções possuem um efeito benéfico na alta e no período pós-alta hospitalar. Avaliar a função física de forma efetiva tornou-se um dos principais objetivos dos fisioterapeutas, por meio de instrumentos de medidas e testes que se baseiam no desempenho do doente e sua interação com o ambiente. 

A European Respiratory Society and European Society of Intensive Care Medicine propôs que a MP dentro do setor intensivo deve ser realizada pelo fisioterapeuta com uma sequência de atividades de acordo com a intensidade de cada conduta e condição do paciente.

Iniciando com a mudança decúbitos no leito, posicionamento funcional, mobilização passiva nas principais articulações, exercícios ativo-assistidos e ativos, uso de cicloergômetro em membros inferiores e superiores, sedestação à beira do leito, ortostatismo, caminhada estática, transferência da cama para cadeira, exercícios sentado, fora do leito e caminhada.

Mobilização passiva

Cerca de 10 a 20 mobilizações por articulação selecionada, em até duas vezes por dia. Em casos de rigidez articular, as mobilizações passivas podem incluir movimentos acessórios ou deslizamentos. Exercícios ativos devem durar por uma hora por dia, em até duas vezes de 30 minutos. 

Os exercícios ativos devem incluir movimentos funcionais (geralmente em diagonais, combinando, como exemplo, flexão, adução e rotação externa de membro superior com flexão de cotovelo, a fim de levar a mão na boca para alimentar-se) que possam servir de base para atividades da vida diária. 

Já o cicloergômetro tem como objetivo principal melhorar o condicionamento cardiovascular, devendo ser realizado sob monitorização ao menos da frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio.

O nível de mobilidade no momento da alta hospitalar é uma informação muito relevante, já que estudos recentes demonstram que este tem associação com a mortalidade ao longo do primeiro ano após alta hospitalar.

Ou seja, pacientes com menor capacidade de realizar movimentos corporais, incluindo andar, têm maior chance de morrer ao longo de um ano após a alta.

Conclusão

A mobilização precoce é uma estratégia importante, no entanto, seus efeitos clínicos não estão bem estabelecidos. 

Adicionalmente, apesar de sua aplicação, os pacientes ainda desenvolvem fraqueza muscular que pode ser atribuída à baixa intensidade dos exercícios no leito e a limitação pela presença do tubo orotraqueal, sedação e estado mental.

Portanto, a reabilitação precoce, com a estimulação elétrica neuromuscular e o exercício em cicloergômetro têm sido alternativas eficazes para melhora da condição clínica dos pacientes em UTI.

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