Quem aqui se lembra das cadeias musculares na hora de tratar seu aluno? Esperamos que muita gente tenha respondido sim, mas é normal esquecer delas.
Como fisioterapeuta você deve estar atento, afinal o conceito de cadeias musculares é importantíssimo para a reabilitação.
Quando existe alguma lesão, patologia ou tensão em uma região da cadeia muscular, outras regiões serão afetadas. Para que o tratamento do aluno seja realmente eficaz devemos compreender completamente esse conceito e como aplicá-lo em aula.
Uma observação: não são só seus alunos de reabilitação que precisam de um trabalho completo considerando as cadeias musculares.
Tensões musculares atrapalham o desempenho físico de qualquer um, inclusive atletas e praticantes ocasionais de atividades físicas.
Aqui aprenderemos sobre:
- As regras de adaptação que geram compensações no corpo;
- Funcionamento das cadeias musculares;
- Tipos de contração muscular (e porque elas importam);
- Origem das compensações biomecânicas das cadeias musculares;
- Importância das cadeias nas reabilitação.
Regras de adaptação do corpo
O corpo é um organismo interconectado que realiza diversas compensações e adaptações na hora de se mover. Sabemos disso porque trabalhamos incessantemente para corrigir tais alterações.
Elas estão presentes tanto nos pacientes de profissionais que trabalham com reabilitação quanto nos alunos de quem trabalha com condicionamento físico. Mas você já percebeu que o corpo realiza adaptações seguindo algumas regras?
Pense bem: todos precisam se mover, não importa a dor, lesão ou problema imposto ao corpo. É exatamente isso que o corpo busca quando realiza suas adaptações. Para isso ele observará alguns princípios, que são:
- Princípio do equilíbrio: o corpo está sempre em busca de equilíbrio fisiológico. Isso quer dizer que ele busca uma acomodação dos fatores de movimento, mas também neurológicos e viscerais do corpo.
- Princípio do conforto: um corpo completamente funcional é confortável, sem dores ou desconfortos. Um dos sinais mais claros de que existem problemas é o surgimento de dor. O corpo sempre busca um estado que não seja doloroso ou que seja o menos doloroso possível.
- Economia: as adaptações do corpo acontecem para não sofrer e para gastar a menor quantidade de energia possível. Porém, essas mesmas adaptações muitas vezes são responsáveis por um aumento no gasto energético que gerará ainda mais compensações a nível de perda de mobilidade e maior desgaste nas estruturas articulares.
Agora você deve estar se perguntando: por que estou falando desses princípios em um artigo sobre cadeias musculares?
Eles regem todas as adaptações que as cadeias sofrem quando existe uma compensação. Portanto, as compensações nas cadeias acontecem para manter o corpo equilibrado, confortável e econômico.
Devemos considerar esses princípios ao avaliar o aluno e identificar suas compensações. Eles ajudam a descobrir qual foi o provável ponto de origem daquele desequilíbrio e as melhores maneiras de corrigi-lo.
Como funcionam as cadeias musculares?
De acordo com Madame Meziéres as cadeias musculares são basicamente um grupo geralmente poliarticulares de músculos que agem como algo único. Em geral esses músculos possuem mesma direção e sentido.
Para compreender melhor o funcionamento das cadeias que existem no corpo precisamos compreender também as fáscias. Essas estrutura é formada por tecido conjuntivo e recobre todo o corpo. Algumas de suas funções incluem diminuir o atrito entre músculos, vasos, tendões, nervos e ossos.
Mas ela não realiza somente isso! Ela também faz a ligação das musculaturas em cadeira e transmite tensões musculares.
Pensemos em uma musculatura que deveria tensionar durante certo movimento. Caso ela fique constantemente tensionada a fáscia também receberá essa tensão.
Assim, a fáscia transmite a tensão que estaria isolada nessa musculatura para outras. Esse é um mecanismo importante que transmite a função da região tensionada para outras.
As musculaturas que deverão realizar a contração muscular no lugar da região desequilibrada passam por uma tensão mais prolongada. Quando isso acontece vemos perda de elasticidade em todo o sistema.
Lembram-se do princípio do equilíbrio que vimos anteriormente? Ele é aplicado nesse caso. A fáscia age para equilibrar o sistema que se desequilibrou com uma tensão muscular errada.
Sabendo dessa função da fáscia conseguimos compreender muito melhor como o corpo funciona. A ideia de um corpo interligado só se torna possível conhecendo a atuação da fáscia.
Tipos de contração muscular
Ao estudar as cadeias musculares obviamente precisamos entender os tipos de contração muscular que encontramos.
Quando o corpo apresenta características completamente funcionais essas contrações acontecem de maneira que proporciona um movimento equilibrado.
Já um corpo com compensações e desequilíbrios pode apresentar uma contração por tempo exagerado ou fraqueza muscular.
- Contração isométrica: músculo se contrai e produz força, mas não gera alteração no ângulo articular. Muitas dessas contrações acontecem para garantir a estabilidade da articulação.
- Contração concêntrica: acontece com o encurtamento do músculo. Também é chamada de positiva ou de encurtamento. Ela produz aceleração dos movimentos do corpo, tudo através de aproximação das origens e inserções musculares.
- Contração excêntrica: acontece através do alongamento do músculo. Ela é responsável pela desaceleração do movimento através do distanciamento das origens e inserções musculares. Ela freia a contração dinâmica positiva.
Observando esses três tipos de contração muscular achamos que você deve ter lembrado das fases dos exercícios. Estamos falando praticamente da mesma coisa.
A fase concêntrica é aquela onde os músculos realizam uma contração concêntrica. Já a fase excêntrica é o momento de realizar a contração excêntrica.
Deveremos lembrar disso em alunos que possuem compensações de movimento. Ao analisar em quais fases do exercício esse aluno compensa você consegue identificar as musculaturas com dificuldade de ativação.
De onde surgem as compensações biomecânicas nas cadeias musculares?
Queremos começar te avisando de algo: muitas vezes o verdadeiro problema do aluno não é somente no movimento.
As cadeias musculares, todo o corpo na verdade, estão conectadas a fatores neuropsicológicos. Isso quer dizer que algumas compensações musculares podem surgir ou se agravar devido a fatores considerados psicológicos.
Algumas vezes encontramos um aluno tenso e estressado no trabalho com musculaturas mais tensionadas e menos mobilidade. Problemas posturais também estão bastante relacionados a fatores psicológicos.
Portanto, recomendamos que você estude um pouco esse aspecto da vida do aluno. Ele será relevante no seu tratamento ou treinamento físico.
Claro que também devemos focar em aspectos além dos psicológicos. Nosso foco é o movimento e é nele que encontraremos as alterações mais relevantes.
Listaremos nesse tópico alguns fatores de compensação nas cadeias musculares bastante importantes. Você já sabe quando deve lembrar deles, durante a avaliação do aluno ou na hora que identificar algum padrão de movimento alterado.
Comprimento muscular
Como vimos ao estudar a contração dos músculos, eles se alongam e encurtam para conseguir realizar o movimento e produzir energia potencial elástica.
Dependendo do caso, o músculo já se encontra encurtado ou tenso mesmo antes de precisar realizar o movimento. Como resultado o movimento acaba com um braço de alavanca alterado e uma eficiência menor.
Velocidade de contração muscular
A velocidade de contração é a resposta de força-relaxamento do músculo. Musculaturas que passam um certo período de tempo distendidas ou comprimidas tornam-se mais resistentes à deformação.
Isso quer dizer que o alongamento e encurtamento necessários para o movimento não acontecem ou acontecem menos. Portanto, diminui a resposta e também sua força inicial.
Ativação neural
Para que os diversos tipos de contração muscular aconteçam é preciso uma ativação a nível central. Alguns casos de desequilíbrio muscular apresentam um delay ou incapacidade de ativar um certo conjunto de musculaturas. O aluno com esse tipo de problema gera compensações e uma ativação errônea das musculaturas no movimento.
Fadiga
Esse é um tipo de compensação que é possivelmente lesivo. O aluno com músculos fadigados pode desenvolver uma lesão ou até patologia em casos mais graves.
Estruturas fadigas têm uma capacidade menor de suportar a contração muscular, ou seja, deixa o corpo mais exposto à lesões.
Por que as cadeias musculares são relevantes na reabilitação?
Trabalhando com qualquer Método para reabilitação, precisaremos lembrar das cadeias musculares.
Não estamos pedindo que as apliquem exatamente como no método de cadeias de Madame Meziéres, dos outros cadeístas ou até do RPG.
Na verdade, só devemos ter atenção ao aspecto global da reabilitação e como ele afeta nossas aulas.
Recebemos diariamente alunos com problemas que parecem isolados e que querem soluções imediatas. Fica muito fácil ser tentado por um tratamento isolado que alivie a dor do aluno e dê uma aparência de melhor.
Mas não será real. Precisamos encontrar todas as compensações que se espalharam pelo corpo devido aquela dor, falta de mobilidade ou outros problemas.
Veja um exemplo em uma patologia muito comum: a escoliose. Escolioses idiopáticas são caracterizadas por um desvio tridimensional da coluna.
Imaginamos que isso todos nós estamos cansados de saber. Quem desejar fazer um tratamento somente trabalhando musculaturas ligadas à região da coluna afetada dificilmente terá resultado.
O aluno é muito mais que uma coluna desviada. Seu corpo possui uma série de tensões musculares que levaram aquele desvio no caso da escoliose idiopática. Quanto mais tempo essa pessoa conviver com a escoliose sem ajuda profissional mais tensões e compensações surgirão.
Na hora que esse aluno chegar para nós na sala de atendimento ele terá um número enorme de compensações espalhados pelo corpo. E você tem certeza que quer tratar somente a coluna?
O mesmo ocorre com todos os desvios posturais que encontramos diariamente. Na verdade, todas as patologias acumulam tensões, desequilíbrios e padrões alterados de movimento.
Como vimos, o tecido conjuntivo do corpo é capaz de espalhar todos esses fatores para outras musculaturas. E quando temos um conjunto muscular, no caso as cadeias, atuando em grupo teremos ainda maior número de tensões espalhadas.
Como aplicar o conceito de cadeias musculares na reabilitação?
Sempre insisto em uma avaliação detalhada por um motivo: precisamos descobrir quais outras musculaturas estão comprometidas.
Entendendo que os músculos estão interconectados através da fáscia, teremos a capacidade de realizar um tratamento muito mais completo.
Lendo esse artigo tenho certeza que você se perguntou: Como posso usar isso em meu tratamento?
É simples! Devemos trabalhar o corpo por inteiro. Seu aluno com lesão no ombro não precisa de 10 exercícios de fortalecimento. Ele precisa de um trabalho integrado entre cintura escapular e coluna torácica. Também precisa de um trabalho eficiente de base e Core
O conceito de cadeias musculares também serve para compreender o papel de cada exercício na reabilitação.
Assim, precisamos entender de uma vez por todas que o corpo é único e deve ser trabalhado como tal.
Conclusão
Trabalhar o corpo de maneira isolada e desconsiderando a ação das cadeias musculares é um dos motivos de falha do tratamento.
Responda com sinceridade: você quer dar um tratamento com melhores resultados e melhorar os movimentos funcionais do aluno?
Então comece a lembrar dessa relação de cadeias musculares, tensão muscular e erros de movimento.
As cadeias têm a capacidade de espalhar tensões musculares ao longo da cadeia. Quando existe um encurtamento, tensão ou fraqueza em certa região você pode ter certeza que ela não ficará contida aí.
Está na hora de você começar a aplicá-los em seus atendimentos também. Sempre que realizar uma avaliação para compreender melhor uma patologia, lesão ou uma simples dificuldade do aluno pense nisso.
Será que esse problema não está relacionado a outras regiões? Respondendo essa pergunta é possível encontrar os exercícios que ajudam mais o corpo desse aluno.
Toda patologia é um emaranhado de compensações, desequilíbrios, tensões, encurtamentos e enfraquecimentos musculares. Cabe ao profissional do movimento saber desvendá-lo.
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Tenho 82 anos, a minha capacidade motora de caminhar, é quase zero, faço exercicios varios, e não consigo uma melhora.
O que é possivel fazer, pra conseguir uma melhora.
Ja fiz acupuntura, fisioterapia, caminhadas, e não encontro resultado, só não tento caminhar com bengala.
Olá, Omar!
É muito importante que um profissional especializado avalie o seu caso e verifique qual o método mais adequado para você 😊
Excelente e construtivo a nível profissional!