Você sabe o que é a apneia do sono, e qual a sua relação com a saúde cardiovascular? O sono pode ser definido como um estado fisiológico de diminuição do estado de consciência e limitação dos processos sensoriais.
Entretanto, muitas pessoas apresentam dificuldades ao dormir, e diante da complexidade e importância do sono no organismo humano, muitos pesquisadores estudam sobre os Distúrbios Respiratórios do Sono (DRS), com o objetivo de buscar intervenções que proporcionem um sono de qualidade a quem sofre com tais distúrbios.
O principal distúrbio respiratório do sono é a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), caracterizada pela interrupção do fluxo ventilatório por no mínimo 10 segundos, podendo chegar a até 30 segundos ou mais, com episódios de obstrução parcial ou total das vias aéreas superiores.
Existem três tipos diferentes de apneia do sono: a apneia obstrutiva do sono; a apneia central do sono; e a apneia mista do sono.
Esse distúrbio pode desencadear algumas doenças cardiovasculares, que podem resultar dos transtornos fisiológicos agudos, dando origem à Hipertensão Arterial Sistêmica, à Doença Arterial Coronariana, e até às arritmias e à insuficiência cardíaca.
Neste artigo, iremos entender qual a relação entre a apneia do sono e doenças cardiovasculares e se é possível tratar e minimizar esses efeitos. Confira a seguir!
Sintomas e diagnóstico
Os principais sintomas observados para a condução do diagnóstico são: ronco alto associado a períodos silenciosos; movimentação noturna e sonambulismo; dores de cabeça matinais; sensação de sufocamento no despertar; irritabilidade e estresse extremo.
O diagnóstico tardio da síndrome da apneia obstrutiva do sono gera a necessidade de intervenção a partir de estratégias integradas, pois há uma complexidade multifatorial nessa condição.
Nesse sentido, uma abordagem integrada é essencial, indo além da mera identificação dos sintomas. A falta de um diagnóstico precoce pode resultar em complicações sistêmicas significativas e desafios no desenvolvimento em diferentes estágios da vida.
Como a apneia do sono pode desencadear doenças cardiovasculares?
A apneia do sono pode acarretar diversas consequências cardiovasculares devido à provocação de alterações na fisiologia respiratória do indivíduo. Mas como?
Esse distúrbio provoca oscilações na pressão intratorácica e cessação do fluxo de ar, aumentando a atividade simpática do organismo e deixando o indivíduo mais suscetível a aumento dos níveis de pressão arterial e frequência cardíaca no período pós-apneia.
O processo de hipóxia crônica intermitente, que promove a hipertensão arterial e aumento da atividade simpática, aumenta os fatores inflamatórios circulantes e exacerba o estresse oxidativo.
Essa má oxigenação pode promover um aumento lipídico através de mediadores inflamatórios e disfunção endotelial através de processos de estresse oxidativo e atividade simpática. Assim, como resultado, pode ocorrer aterosclerose e o indivíduo com apneia do sono pode desenvolver doenças cardiovasculares.
A insuficiência cardíaca está associada à apneia do sono devido a fatores como: hipóxia intermitente, pressão arterial elevada, aumento de catecolaminas e flutuações na pressão intratorácica negativa causadas pela inspiração quando a via aérea está fechada.
O aumento da pressão intratorácica aumenta o retorno venoso e a pré-carga, e também aumenta a pressão transmural do ventrículo direito, fazendo com que ele se expanda. Isso prejudica a vasculatura pulmonar, uma vez que o septo interventricular passa a desviar para a esquerda, resultando em dificuldade de ejeção do ventrículo esquerdo.
O aumento da pressão transmural do ventrículo esquerdo e da aorta intratorácica, juntamente com a dificuldade e redução do volume sistólico, aumenta a pós-carga, reduz o suprimento de oxigênio tecidual e leva facilmente à hipertrofia ventricular esquerda e à insuficiência cardíaca.
A apneia do sono contribui para o aumento de arritmias, incluindo fibrilação atrial, que é evidenciada pelo aumento da hipóxia tecidual devido à pressão intratorácica negativa, da pré e pós-carga, e da atividade simpática.
O aumento da atividade simpática é evidenciada pela expansão dos átrios de paredes finas, aumentando a ocorrência de fibrilação atrial, de batimentos prematuros e instabilidade elétrica.
Esse distúrbio também se manifesta como um estado de hipercoagulabilidade, causando aumento das concentrações de fibrinogênio, das moléculas de adesão e das concentrações de fatores de coagulação.
A atividade plaquetária também aumenta enquanto a atividade fibrinolítica diminui. Assim, pacientes com apneia obstrutiva do sono correm risco de desenvolvimento de coágulos sanguíneos e embolia pulmonar.
Doenças cardiovasculares associadas à apneia do sono
A apneia do sono está relacionada a várias doenças cardiovasculares, incluindo a hipertensão arterial, que causa a interrupção repetida da respiração durante o sono.
Outras patologias relacionadas são a doença coronariana, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca. Ela também está associada a um aumento do risco de Acidente Vascular Encefálico e pode contribuir para complicações após o ocorrido.
Os níveis de lipídios no sangue são alterados devido à apneia do sono, contribuindo para a dislipidemia, assim como a resistência à insulina, que aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Tratamento para apneia do sono
O trabalho fisioterapêutico desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com apneia do sono. Exercícios de fortalecimento muscular para a língua, garganta e região cervical podem melhorar a função das vias aéreas superiores e reduzir obstruções durante o sono.
Exercícios de respiração que incluem técnicas específicas para aprimorar a capacidade pulmonar, ventilação e oxigenação enquanto o paciente dorme também são essenciais.
A posição em que o paciente dorme, como em decúbito dorsal, influencia a ocorrência desse distúrbio. Por isso, a terapia de posicionamento e recomendações sobre a posição ideal são estratégias para minimizar obstruções das vias aéreas.
Manter um estilo de vida saudável, com uma dieta rica em nutrientes e boa frequência de atividade física é excelente não apenas para tratar, mas também para prevenir a apneia do sono, visto que a obesidade é um de seus fatores de risco.
A terapia miofuncional envolve exercícios para aprimorar a função dos músculos da face, língua e garganta, auxiliando na manutenção das vias aéreas abertas durante o sono.
Mesmo com todos esses tratamentos, a fisioterapia pode ajudar de forma ainda mais significativa, na adaptação da Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas, um tratamento convencional, mas que traz excelentes resultados para casos de apneia do sono.
O uso aparelho de pressão positiva, um dispositivo projetado para evitar o colapso das vias respiratórias ao dormir, é o método mais confiável para tratar esse distúrbio, visto que resulta em melhorias na oxigenação e, consequentemente, na qualidade do sono.
Entretanto, a adesão dos pacientes a essa estratégia pode ser comprometida devido aos custos elevados e às dificuldades de adaptação, sendo necessário o acompanhamento do fisioterapeuta para amenizar possíveis problemas de uso.
É importante destacar que o tratamento fisioterapêutico para a apneia obstrutiva do sono deve ser personalizado e integrado a outras abordagens terapêuticas, conforme a orientação de uma equipe de saúde multiprofissional.
Conclusão
A abordagem fisioterapêutica desempenha um papel crucial no tratamento da apneia do sono, oferecendo um leque de intervenções complementares para melhorar a função das vias aéreas superiores e reduzir as obstruções durante o sono.
Desde exercícios de fortalecimento muscular específicos até terapia de posicionamento e orientações sobre mudanças no estilo de vida, a fisioterapia busca reduzir os vários fatores que contribuem para essa condição complexa.
Reconhecendo a influência da obesidade nessa doença, incorporar estratégias de perda de peso e melhora dos hábitos alimentares também é essencial no tratamento.
Contar com uma equipe multiprofissional e ser guiado por profissionais de saúde especializados também é fundamental para que o paciente com apneia do sono obtenha bons resultados e garanta mais tranquilidade ao dormir.
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