A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Cuidados Paliativos como cuidados assistenciais que buscam melhorar a qualidade de vida dos doentes e seus familiares que estão enfrentando problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave com prognóstico limitado.
Têm como objetivo a prevenção e alívio do sofrimento, através de recursos para identificação precoce e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, mas também dos psicológicos, sociais e espirituais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), originalmente, a atenção dos cuidados paliativos era direcionada para pacientes na fase final da vida. Hoje, se considera que vão além, devem estar disponíveis para pacientes e seus familiares durante todo o processo de doença ameaçadora à continuidade da vida e também no transcurso do luto.
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Origem dos Cuidados Paliativos
O surgimento dos cuidados paliativos na era moderna, datam final dos anos 50 e início dos anos 60, mais precisamente em 1948, num hospital universitário em Londres, quando Dame Cicely Saunders, uma médica, enfermeira e também assistente social se deparou com um Judeu Polaco de 40 anos a morrer de um câncer.
Esse acontecimento a desafiou a melhor compreender o controle da dor e demais sintomas, e também resultou na abertura do 1º hospice em Londres, o St. Christopher’s Hospice (SAUNDERS, 2006).
Com o intuito de acolher pacientes sem chances de cura, em 1963, iniciou o projeto para criação de uma instituição que se dedicasse a acolher estes pacientes, e em 1967, inaugurou o St Christopher’s Hospice que foi o primeiro “ hospice”. Hospice (do latim hospititium), que significa hospitalidade, passou a identificar locais que acolhiam doentes e moribundos (ORTRIZ, 1999).
Este reunia profissionais e especialistas em controle da dor e sintomas, dedicados às áreas de cuidado humanitário, ensino e pesquisa clínica. O St. Christopher’s Hospice foi o pioneiro no campo dos cuidados paliativos, que atualmente são praticados em todo o mundo. Portanto esta abordagem holística, cuidando do bem-estar físico, espiritual e psicológico do paciente, objetivando mudar a visão da morte, marcou um novo começo na prática da medicina (ST. CHRISTOPHER’S HOSPICE, 20016).
Dame Cicely Sounders, fundadora do St. Christopher’s Hospice, se recusava aceitar que não havia mais nada que pudesse ser feito em pacientes terminais, e sua palavra de ordem era sempre que “havia muito mais a ser feito”.
Compreendia que uma pessoa que estava morrendo é mais que um paciente com sintomas a serem controlados. Reconhecia as necessidades práticas, emocionais, sociais e espirituais que envolvem o ser humano e a importância de um acolhimento e atenção holística.
Cicely é mundialmente reconhecida como fundadora do movimento moderno de cuidados paliativos e recebeu muitas honras e prêmios por seu trabalho. Ganhou mais de 25 títulos honorários, do Reino Unido e do exterior, além de ser nomeada Dame do Império Britânico em 1979 e concedida à Ordem do Mérito em 1989 (ST. CHRISTOPHER’S HOSPICE, 20016).
Muitas pesquisas importantes na área de Cuidados Paliativos foram desenvolvidas neste Hospice, por exemplo, pesquisas sobre o uso da morfina como um medicamento eficaz para o controle da dor e também outros estudos de novas abordagens para o controle de sintomas de pacientes terminais (ST. CHRISTOPHER’S HOSPICE, 20016).
Além disso, em 2001, o St. Christopher’s Hospice recebeu o maior prêmio humanitário do mundo, o Prêmio Humanitário Conrad N Hilton, de um milhão de dólares pelo trabalho originado por Dame Cicely através do Hospice (ST. CHRISTOPHER’S HOSPICE, 20016).
“ O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida” – Cicely Saunders
Dame Cicely Saunders morreu em 2005, no St. Christopher’s Hospice, sob cuidados no Hospice mundialmente famoso que ela fundou.
Os efeitos dos Cuidados Paliativos
Ajudar o paciente a viver de maneira ativa até sua morte, oferecer cuidados de qualidade, acolhimento e humanização à pessoa em um estado terminal abriu novos caminhos para uma nova atitude em relação à morte, ao morrer e ao luto.
Paliativo, do Latim Pallium, significa manto, proteção, ou seja, proteger aqueles em que a medicina curativa já não mais acolhe (ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2009).
Inevitavelmente, cada vida humana chega ao seu final. E assegurar que isso aconteça de uma forma digna, cuidadosa e menos dolorosa possível merece tanta prioridade quanto qualquer outra. Sendo uma prioridade não apenas para serviços sociais e da saúde, mas para toda a sociedade (HUNES, 2017).
Além de tudo, torna-se essencial assegurar uma boa morte acompanhada de dignidade e sem sofrimento, aquela com o mínimo de angústia, livre de estresse – tanto para o paciente, familiares e cuidadores; buscando respeitar os desejos do paciente e seus familiares; em conformidades aos padrões clínicos, culturais e éticos (FIELD e CASSEL, 2003).
“Você é importante porque você é você. E você é importante até o fim da sua vida. Faremos todo o possível não só para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para fazer você viver até o momento de morrer.” – Cicely Saunders
Conclusão
Como pode notar, os cuidados paliativos não aceleram e nem adiam a morte dos pacientes, eles servem para tratar a pessoa e não a doença em si.
Justamente por isso, diferente da terapia convencional, os cuidados paliativos são fundamentais para proporcionar mais dignidade, qualidade e menos sintomas depressivos nos últimos dias de vida dos enfermos.
A abordagem ao paciente e família é feita por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos, em atividades diretamente ligadas às necessidades biopsicossociais. Contudo, é de extrema importância que esses profissionais estejam bem capacitados a fim de saber comunicar-se de forma transparente e compassiva.
Referências
Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic; 2009.
Field, M., & Cassel, C. Washington, DC: National Academies Press, 2003. A
Hunes G. Cuidados Paliativos na atenção oncológica. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva Hospital do Câncer IV – Cuidados Paliativos, 2017. Disponível em: http://www.ans.gov.br/images/stories/Particitacao_da_sociedade/2016_gt_oncologia/gt_oncorede_reuniao7_apresentacao_germana_hunes.pdf Acesso em: 22 de Dezembro de 2019.
Ortiz JS. Historia de la Medicina Paliativa. Med paliativa. 1999;6(2):82–8.
Saunders C. The Evolution of Palliative Care. Cicely Saunders – Selected writings 1958-2004. Oxford: Oxford University Press; 2006. p. 263–8.
St. Christophers Hospice, 2016. Disponível em https://www.stchristophers.org.uk/quality-of-care. Acesso em 22 de Dezembro de 2019.
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Brasil https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2015/05/vamos-falar-de-cuidados-paliativos-vers–o-online.pdf