O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa média de vida são eventos que ocorrem em escala mundial, esses fatores são concretos e de conhecimento sociopolítico. Portanto, o Brasil apresenta uma das maiores taxas de crescimento da população idosa, particularmente idosos acima de 80 anos. Segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe a previsão de que, em 2025, o país terá 32 milhões de idosos, o que alteraria sua posição para sexto lugar no mundo em relação ao total de idosos na população.
Expectativa de vida no Brasil
Em 1920, a expectativa de vida brasileira era de apenas 35,2 anos, enquanto os idosos representavam apenas 4,0% da população total do país. Logo, com esse perfil, para cada 100 crianças (de 0 a 14 anos), o Brasil possuía aproximadamente 11 idosos. Porém, em 2010, com a duplicação da expectativa de vida (quase 74 anos), 10,8% da população tinha 60 anos ou mais, aumentando gradualmente a proporção relativa de idosos na composição etária do país. As estimativas populacionais do IBGE indicam que a participação de idosos atingirá aproximadamente 23,8% da população na quinta década do século XXI. Então, com o aumento do número de idosos em relação aos jovens, estima-se que haverá uma inversão da relação entre jovens e idosos, com 153 idosos para cada 100 pessoas com menos de 15 anos de idade.
Sendo assim, essa mudança demográfica trará desafios ao país, pois associado ao processo de envelhecimento, há mais pessoas adquirindo doenças crônicas e incapacitantes, as quais levam a perda de autonomia e independência. Logo, esse quadro complicado pode trazer problemas de adaptação do idoso ao mundo atual.
O processo de envelhecimento
O envelhecimento representa a consequência ou efeitos da passagem do tempo no organismo e no psiquismo. Assim, o envelhecimento pode ser considerado biologicamente como uma involução morfofuncional que afeta todos os sistemas fisiológicos principais de forma variável. Portanto, esse processo afeta a fisiologia do organismo e exerce um impacto na capacidade funcional do indivíduo ao torná-lo mais suscetível às doenças crônicas.
Dessa maneira, essa involução não impede, entretanto, que a pessoa se mantenha ativa, independente e feliz. A autonomia é um fator fundamental na vida de um idoso, seja na esfera pessoal, social, cognitiva, motora, emocional ou afetiva . Por isso, a dependência causa ao idoso um estado de desilusão e muitas vezes de desengajamento das funções que lhe rodeiam, diminuindo sua expectativa de vida. Contudo, o contrário também é verdadeiro; tornar o idoso engajado em atividades socioeconômicas lhe traz sentimento de participação, aumento da autonomia e consequentemente da expectativa de vida.
Frente a veracidade dessas informações, qual deve ser o papel do profissional de saúde para melhorar a qualidade de vida dessa população?
Qualidade de vida do idoso: como melhorá-la?
Para a manutenção de uma boa qualidade de vida para pessoas da terceira idade, o primeiro passo é melhor orientar quem conduzirá o tratamento e a reabilitação deste grupo etário; ou seja, incluir mais disciplinas voltadas para essa área nas grades curriculares dos estudantes de cursos da saúde. Isso compreende disciplinas não apenas teóricas, mas práticas também, que mostrem a realidade da população idosa. Outra forma de aproximar a produção acadêmica das necessidades sociais é através de projetos de extensão.
Pesquisa UPF – envelhecimento humano no dia a dia
Certa vez, em meados de 2015, participei de um evento promovido em conjunto pela prefeitura de Passo Fundo, por uma empresa de ônibus municipal e a Universidade de Passo Fundo (UPF). Os estudantes do Programa de Pós Graduação em Envelhecimento Humano da universidade apresentaram estudos práticos realizados na UPF que tiveram a intenção de mostrar de que maneira os colaboradores dessa empresa poderiam usar no dia a dia o conhecimento acerca do trato com a terceira idade para melhorar o atendimento aos idosos.
Assim, a pós a apresentação, os motoristas e cobradores foram convidados a participar de uma dinâmica, em que seus olhos eram semi-vendados, suas mãos e pernas eram amarradas de tal forma que dificultasse a locomoção e fones de ouvido eram colocados para diminuir a acuidade auditiva. A intenção foi mostrar de uma forma lúdica como é a realidade dos idosos e os problemas que eles enfrentam ao pegar ônibus. O que aconteceu após a prática foi muito interessante, alguns motoristas estavam até mesmo emocionados e prometeram que teriam cuidado e atenção redobrados com os idosos a próxima vez que estes utilizassem o transporte público. Ora, se a ideia é viver bastante, cuidar do idoso é cuidar do nosso futuro também.
Educação também é solução
Outra sugestão para melhorar este quadro está na educação continuada: isto é ofertar mais cursos de especialização, mestrado/doutorado voltados para o envelhecimento humano. Este é um campo do conhecimento que pode ser estudado pelos mais diversos segmentos, não apenas por profissionais da saúde, mas até engenheiros e arquitetos devem rever seus conceitos quanto à urbanização e mobilidade social, por exemplo. Contudo, profissionais da saúde devem aprimorar seu conhecimento prático e teórico sobre essa população, seja para atender melhor seus pacientes ou para se destacar entre seus colegas de profissão, afinal, quem obter certificação nessa área, apresentará diferencial frente aos pacientes.
Há outro ponto importante nesta discussão: o que dizer das políticas públicas voltadas para essa categoria? O nosso Estatuto do Idoso que estabelece os direitos dos idosos e pune quem o viole, tornou-se projeto de lei nº 3.561 em 1997 e apenas em 2003 virou lei federal nº10.741. De lá para cá, as leis, projetos e campanhas não acompanharam o aumento da expectativa de vida. A legislação que temos em vigor atualmente poderia ser válida em 1997, mas já não satisfaz nossas necessidades atuais.
É preciso discutir e debater tais temas nas esferas sociais, econômicas, políticas e, talvez, o mais urgente, na área da saúde. Melhorar nossos sistemas e poder dar atendimento e suporte digno para quem deseja envelhecer com autonomia e felicidade nesse país é um passo primordial para uma boa qualidade de vida do idoso. Estamos acompanhando diariamente notícias sobre os principais grupos de risco da COVID19, dentre eles, estão os idosos, por isso a urgência de políticas públicas que incentivem boas práticas para melhorar a vida da população.
Conclusão
Para finalizar, sugiro que todos parem e pensem nas pessoas idosas próximas, sejam pacientes, familiares ou vizinhos. Reflitam sobre como vivem essas pessoas e de que maneira você está contribuindo para melhorar a sua qualidade de vida. É importante que essa reflexão não se restrinja apenas aos profissionais da saúde, mas sim para todos nós. Pensem em como vocês gostariam de ser tratados quando estiverem com mais de 60, 70 ou 80 anos. E lembrem-se que, para aqueles que temem a velhice, eu lhes digo: envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo.
Referências:
(KUDRYASHOVA et al., 2020)
(MOREIRA, 2012)
(MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016)
(TAVARES; PIRES; SIMÕES, 2011)
(KUDRYASHOVA et al., 2020)