As doenças cardiovasculares (DCV) ainda lideram o ranking das principais causas de morte no mundo. Só a doença cardíaca isquêmica e os acidentes vasculares cerebrais representam cerca de 84,9% dos óbitos relacionados a problemas no sistema cardiovascular. O restante está ligado a condições como doenças valvares calcificadas e vasculopatias periféricas.
Diante desse cenário alarmante, a prática de exercícios físicos mostra um potencial gigante na melhora da saúde geral e na redução do risco de doenças crônicas. Isso porque a inatividade física é considerada um dos maiores vilões para quem tem (ou quer evitar) as DCV.
Inclusive, pessoas com doenças crônicas costumam apresentar altos níveis de sedentarismo, e é aí que programas estruturados com atividade física e acompanhamento nutricional entram para mudar tudo.
A seguir, vamos entender um pouco mais quais são as causas, sintomas e como a fisioterapia entra na recuperação das doenças cardiovasculares. Vamos lá?
Causas e fatores de risco por trás das doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares englobam diversas condições que afetam o coração e os vasos sanguíneos, como a doença coronariana, insuficiência cardíaca, cardiopatias congênitas e a doença cardíaca reumática.
Sua origem está ligada a uma combinação entre predisposição genética e hábitos de vida pouco saudáveis, sendo a alimentação desequilibrada uma das principais vilãs. Dietas ricas em gorduras saturadas, açúcar e sódio favorecem o surgimento de fatores de risco importantes, como obesidade, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), diabetes e alterações nos níveis de colesterol.
Os fatores de risco são divididos em duas categorias:
- Modificáveis, como obesidade, sedentarismo, diabetes, dislipidemia, HAS, tabagismo, etilismo, estresse, distúrbios do sono e saúde mental fragilizada (ansiedade e depressão);
- Não modificáveis, como idade e sexo, que não podem ser alterados, mas precisam ser levados em conta na prevenção.
Com o aumento expressivo da obesidade nas últimas décadas, a saúde cardiovascular têm sofrido grandes impactos. O combo alimentação ruim + inatividade física forma o terreno perfeito para o avanço das doenças cardiovasculares.
Por isso, prevenir é muito mais do que um discurso, é estratégia de saúde pública. Promover mudanças no estilo de vida, como incentivar a prática de exercícios e melhorar os hábitos alimentares, é essencial para reduzir a prevalência dessas doenças que ainda ocupam o topo do ranking de mortalidade global.
As doenças cardiovasculares começam de dentro para fora
A fisiopatologia das doenças cardiovasculares é cheia de nuances e processos celulares. No centro dessa história, está a aterosclerose, a principal responsável pela maioria das complicações cardiovasculares. Ela acontece quando placas de gordura, colesterol e tecido fibroso se acumulam nas paredes das artérias, comprometendo o fluxo sanguíneo.
Esse acúmulo começa com um problema no endotélio, a camada que reveste os vasos sanguíneos. Quando essa barreira perde sua função protetora, ela se torna mais permeável, permitindo que as lipoproteínas de baixa densidade (LDL, o famoso “colesterol ruim”) penetrem na parede arterial.
Ao serem oxidadas, essas partículas de LDL ativam uma resposta inflamatória, atraindo macrófagos que as engolem e se transformam em células espumosas. Com o tempo, essa bagunça celular vira uma placa aterosclerótica.
E se essa placa se romper? Risco direto de trombo, o que pode resultar em um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Outro fator que entra pesado nesse cenário é a HAS. Pressão alta danifica os vasos sanguíneos e contribui para a disfunção endotelial, além de aumentar a rigidez das artérias. Isso acelera o processo aterosclerótico e pode levar a quadros como insuficiência cardíaca e outras complicações severas.
Ou seja, as doenças cardiovasculares começam de forma silenciosa, mas seu impacto pode ser devastador se os mecanismos de prevenção e controle não forem adotados cedo.
Sinais e sintomas das doenças cardiovasculares
Reconhecer os primeiros sinais das doenças cardiovasculares é um passo essencial para garantir um diagnóstico precoce e tratamento mais eficaz. Entre os sintomas mais comuns estão angina (dor no peito em forma de aperto, pressão ou peso), falta de ar, palpitações, sudorese excessiva e fadiga. Esses sinais podem indicar quadros como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca ou arritmias.
A insuficiência cardíaca, por exemplo, costuma se manifestar com cansaço extremo, inchaço nas pernas e dificuldade para respirar, especialmente quando a pessoa se deita. Já os AVC’s, também classificados como DCV’s, tendem a aparecer de forma mais abrupta, com sintomas como fraqueza súbita em um lado do corpo, perda de fala, visão ou equilíbrio.
Alguns sinais menos óbvios também merecem atenção, especialmente em mulheres. Dor nas costas, mandíbula ou sensação de indigestão podem atrasar o diagnóstico. Além disso, sintomas como confusão mental, dificuldade para dormir ou sudorese sem esforço físico são indícios sutis de sobrecarga cardíaca e não devem ser ignorados.
Se a pessoa já possui fatores de risco como hipertensão, diabetes, tabagismo ou histórico familiar, a atenção precisa ser redobrada. Conhecer esses sinais, manter o acompanhamento médico em dia e adotar hábitos saudáveis são estratégias fundamentais para prevenir as complicações das doenças cardiovasculares e reduzir seu impacto na saúde global.
Reação do coração ao exercício físico
O exercício físico desencadeia respostas importantes no organismo, tanto de forma imediata quanto a longo prazo. No curto prazo, ele promove aumento da frequência cardíaca, dilatação dos vasos sanguíneos, maior fluxo sanguíneo e captação de energia.
Já as adaptações crônicas, fruto da prática regular, incluem redução da frequência cardíaca de repouso, queda da pressão arterial, melhora da eficiência cardíaca e aumento do VO₂máx.
Esses efeitos estão ligados à intensidade, duração e frequência do exercício. Ou seja, não é só se movimentar, é fazer do jeito certo.
Além disso, existem diferentes modalidades que podem ser incluídas nos protocolos, como exercícios aeróbicos, isométricos ou combinados. A escolha ideal vai depender das necessidades e limitações de cada paciente, e deve ser feita dentro de um plano de reabilitação cardiovascular individualizado.
Integrar esses programas ao tratamento multiprofissional não só melhora a condição clínica e funcional dos pacientes com doenças cardiovasculares, como também contribui para uma vida com mais autonomia, energia e qualidade.
Protocolos fisioterapêuticos nas doenças cardiovasculares
O tratamento das doenças cardiovasculares é amplo e envolve desde medicações até mudanças no estilo de vida, passando por ajustes na alimentação, intervenções cirúrgicas e, claro, a prática regular de exercícios físicos.
A fisioterapia também age na melhora da qualidade de vida e na redução dos sintomas em pacientes com DCV. A sua abordagem inclui intervenções como exercícios aeróbicos e resistidos, sempre respeitando a tolerância ao esforço de cada pessoa.
Para garantir segurança e bons resultados, é importante que o tratamento medicamentoso esteja bem ajustado. Isso ajuda o paciente a responder melhor aos exercícios e diminui os riscos durante a reabilitação.
A estratificação de risco (baixo, intermediário ou alto) orienta as condutas do fisioterapeuta, que precisa estar atento aos fatores clínicos antes de iniciar qualquer intervenção.
A reabilitação pode ocorrer no hospital ou em ambiente ambulatorial, e é dividida em fases com objetivos específicos:
- Fase 1: intra-hospitalar, busca garantir alta com condições físicas e emocionais estáveis;
- Fase 2: inicia logo após a alta e dura em média 3 meses;
- Fase 3: costuma durar de 3 a 6 meses;
- Fase 4: prolongada, com foco na manutenção dos ganhos ou evolução contínua.
Os exercícios aeróbicos são os que mais se destacam no tratamento das DCV’s, pois geram efeitos crônicos positivos sobre o coração. Já os exercícios de resistência muscular (tanto de força quanto de potência) também oferecem benefícios importantes para a saúde global e para o sistema cardiovascular.
A personalização dos protocolos fisioterapêuticos é o que garante sua real eficácia. O fisioterapeuta deve avaliar individualmente cada paciente e traçar um plano sob medida. A integração com outros profissionais de saúde potencializa os resultados e amplia o cuidado.
Em resumo, os protocolos de fisioterapia para doenças cardiovasculares têm como objetivo melhorar a capacidade funcional, reduzir riscos e devolver qualidade de vida aos pacientes. Com uma abordagem bem planejada e supervisionada, os benefícios vão muito além da sala de reabilitação.
Conclusão
As doenças cardiovasculares carregam múltiplas manifestações e exigem atenção constante. Por isso, o olhar integrado entre diferentes profissionais e o acompanhamento contínuo fazem toda a diferença. Iniciativas como educação em saúde, programas de exercício supervisionado e planos de cuidado individualizado trazem grandes benefícios na saúde cardiovascular.
A alta taxa de casos e mortalidade deixa claro que não dá mais para esperar. Adotar uma prática de exercícios físicos, cuidar da alimentação e ajustar a rotina são atitudes que reduzem riscos e colocam o coração em outro ritmo, mais saudável, mais estável.
A fisioterapia entra como parte ativa nesse processo, trazendo intervenções que recuperam funções, aliviam sintomas e devolvem autonomia. Com os protocolos certos e um olhar atento às necessidades de cada pessoa, o tratamento ganha mais resultado e mais sentido.
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