As lesões são, sem dúvidas, muito abordadas no dia a dia dos profissionais e estudantes de Fisioterapia. Apesar disso, geralmente se fala a respeito do tratamento, e pouco se pensa sobre outra questão essencial: quais são as principais causas das lesões?
O fato é que existem diferentes maneiras de se chegar a uma conclusão sobre como e porque um indivíduo se lesiona. Por isso, nesse texto iremos abordar essas questões e exemplificar como realizar um diagnóstico efetivo da lesão.
Vamos lá?
Sobre quais lesões falaremos?
Para que tudo fique mais claro, é importante dizer que não entram nessa discussão os traumas diretos causados por razões incidentais. São exemplos de incidentes:
- acidentes por meios de transporte (carro, bicicleta, patinete);
- lesões causadas durante a prática de esportes;
- quedas e pancadas do dia a dia;
- outras maneiras pelas quais nos machucamos no decorrer de nossas vidas;
Falaremos, então, das seguintes lesões:
- lesões indiretas, que aparecem com o tempo;
- lesões que ocorrem de maneira aparentemente imediata, como uma dor que sentimos de repente durante a prática algum exercício físico, por exemplo;
- dores repentinas ao realizar atividades do dia-a-dia, como descer ou subir escadas ou mesmo aquela que sentimos simplesmente pegando algo do chão;
Ainda, é importante lembrar que o que nos faz sentir ou acharmos que nos lesionamos é o fator intensidade da dor e/ou a perda de alguma função, como não conseguir mais realizar determinado movimento – seja pela limitação causada pela possível lesão, seja pela perda da força para realizar determinadas tarefas.
Agora sim, vamos ao que interessa!
Busca por solução rápida e o descaso com as causas das lesões
Quando sentimos alguma dor que consideramos não ser grave, costumamos seguir alguns padrões comuns sem pensar nas causas das lesões. Apesar disso, quando acreditamos na gravidade do quadro, corremos logo para o Pronto Socorro.
Esse é uma conduta comum do brasileiro, que costuma se automedicar (ingerindo anti-inflamatórios, relaxantes musculares, analgésicos e até antibióticos) e ir atrás de outros cuidados paliativos, como a massagem, por exemplo.
Apenas procuramos ajuda médica (de ortopedistas, na maioria dos casos) posteriormente, caso não se note melhora na dor. Raramente fazemos o que seria o ideal: procurar um médico Fisiatra ou um Fisioterapeuta especializado.
A partir disso percebemos que, independentemente do que a pessoa fizer para procurar resolver sua dor, na maioria das vezes ela irá apenas buscar a solução imediata e não necessariamente as causas das lesões.
Principais causas das lesões
Existem dois fatores básicos que, com o tempo, poderão levar ao aparecimento de diversos tipos de lesão. São eles:
- as alterações posturais (ao longo de toda a vida);
- o desequilíbrio ou fraqueza muscular;
Há, ainda, um terceiro fator que entraria em uma categoria intermediária entre estes dois pontos e o trauma direto: a falta de cuidado ou o despreparo físico.
Exemplo de falta de cuidado e despreparo físico:
Um indivíduo vai pegar do chão um objeto muito pesado. Ele imagina que não deveria fazer isso sozinho ou que deveria se preparar melhor, mas, mesmo assim, resolve tentar e acaba sentindo uma fisgada no meio das costas.
Esse é um típico caso de falta de cuidado na realização de uma tarefa. O indivíduo até poderia ter a força necessária, mas não tinha a consciência de usar a força do core e não utilizou a força das pernas para agachar ao invés de “dobrar” as costas. Falta de cuidado e de preparo, que também podem ser as causas das lesões do indivíduo.
Diagnóstico ineficaz gera conclusão equivocada sobre as causas da lesão
Vamos tomar como exemplo inicial as lesões da articulação do joelho.
A situação é a seguinte: uma pessoa está praticando corrida (seja na esteira, seja na rua) e, de repente, sente uma pontada no joelho. Ela busca ajuda e, depois de realizar exames de imagem, é diagnosticado o caso de condromalácia patelar grau 2. Lhe dizem que a causa é a corrida e o impacto causado pela prática, e que a atividade deve ser evitada.
Ou, ao invés disso, vamos considerar que o diagnóstico foi de lesão no menisco e que, novamente, a causa verificada é a corrida e o impacto; mais uma vez, a recomendação é de evitar a atividade.
Ou, ainda, o diagnóstico foi de tendinite patelar e a causa seria a hiperatividade de tal músculo devido à sua corrida; por isso, é claro, ela deve evitar a atividade.
Nesse momento nos questionamos: será que causas das lesões realmente são, em todos os casos, a corrida e o impacto causado por ela?
Será que o profissional que deu o diagnóstico avaliou a pisada dessa pessoa? Teria sido analisada a existência de instabilidade de tornozelo ou quadril? Foi observada a possível condição de joelhos varos ou valgos? Será que ele avaliou se há desequilíbrio muscular entre agonistas, antagonistas e sinergistas?
Esse é um caso que evidencia o quanto um diagnóstico ineficaz pode levar a conclusões equivocadas. Mas não é apenas a falha de diagnóstico que acarreta problemas.
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Falta de avaliação leva a conduta inadequada
Agora, pensemos em uma situação diferente.
O indivíduo acorda e, ao levantar da cama, “trava” e não consegue ficar ereto, sentindo muita dor na região lombar. Então, ele vai até o Pronto Socorro, onde toma uma série de medicamentos e, ao fazer exame de imagem, descobre uma hérnia de disco L5-S1 (entre a quinta vértebra lombar e a primeira vértebra sacral).
O procedimento padrão do médico plantonista, após dar a medicação, será receitar analgésicos e anti-inflamatórios e encaminhar o paciente para um médico ortopedista. Se o paciente parar nas mãos de um médico cuja especialidade seja cirurgia de coluna, as chances desse médico indicar a cirurgia são enormes.
Se, ao invés disso, ele procurar outro médico, pode ser que este indique um tratamento conservador (como o RPG e analgesia, como a acupuntura ou eletrotermoterapia) antes de indicar diretamente a cirurgia.
Agora, o que os dois médicos têm em comum é o diagnóstico da hérnia de disco. Apesar disso, um enxergou a possibilidade de tratar conservadoramente, enquanto o outro nem que sequer a considerou.
Mas, novamente: será que ambos questionaram esse sujeito em relação a todos os seus hábitos para descobrir as reais causas da lesão? Como ele dorme, quantas horas por dia permanece sentado, como ele permanece sentado, que atividades físicas pratica (ou não pratica)… Será que avaliaram força do core, glúteos e membros inferiores?
Será que foi verificado no exame de imagem a existência de alterações posturais significativas correlacionadas com a lesão (hiperlordose, retificação, escoliose)? E, por último, será que se perguntaram se a hérnia é realmente a causa da dor e incapacitação do sujeito?
Como podemos ver, a falta de avaliação também pode ser perigosa. E, por falar em alterações posturais, devemos lembrar que elas também ser as causas das lesões. Entenda como:
Sobre as principais causas das lesões
1- Alteração Postural
Quando falamos sobre alteração postural, é essencial considerar absolutamente todos os segmentos do corpo de maneira estática e dinâmica.
Ao avaliar um quadro de lesão em membros (sejam eles superiores ou inferiores), devemos sempre observar a relação da raiz nervosa e sua correlação vertebral, a fim de identificar a origem do problema. Deve-se, ainda, verificar toda a estrutura que estabiliza o segmento.
O mesmo é válido para lesões centrais na coluna vertebral. Nesses casos, deve-se observar possíveis alterações desde os pés até a região lombo/sacra que possam repercutir direta ou indiretamente em todo o segmento dorsal.
Exemplo de caso clínico:
Uma pessoa aparentemente saudável – que faz esteira e musculação três vezes por semana – aparece no consultório com um quadro de tendinopatia no manguito rotador decorrente de uma síndrome do impacto.
Geralmente, chega-se à conclusão precipitada de que há simplesmente um excesso de uso da articulação. A conduta ideal, nesse caso, seria fazer repouso do membro e buscar fortalecer os músculos do manguito rotador aplicando laser, ultrassom ou algo equivalente.
Acontece que, se esse tal indivíduo tiver uma alteração postural onde há um protrusão de escápula associada a uma fraqueza de musculatura posterior das costas, encurtamento dos peitorais e ainda retificação da coluna cervical, a pessoa pode fortalecer o manguito o quanto for; a probabilidade de não haver um bom resultado é muito grande.
Em muitos casos a insistência em uma conduta inadequada, além de não promover nenhum resultado positivo, pode piorar o quadro até alcançar o ponto (que ouvimos muito) de alguém dizer que a Fisioterapia não resolve.
E o paciente, por não ver outra opção, volta ao médico que irá querer infiltrar ou operar.
2- Desequilíbrio e/ou fraqueza muscular
Agora, pensemos na seguinte situação: o paciente chega para avaliação fisioterapêutica com o diagnóstico clínico de fratura por estresse, sem desvio, em ísquio púbico a direita. Ele relata que sentiu muita dor na região glútea e na virilha após correr uma meia maratona, para a qual se preparou durante um ano.
Investigando mais a fundo, o paciente confessa que, durante seus treinos, já sentia que a perna direita não tinha o mesmo desempenho que a outra, além de ter mais dificuldade para alongá-la na parte posterior. Apesar disso, acabou não dando bola, uma vez que isso aparentava não atrapalhar seu desempenho e não lhe causava dor.
Ao realizar avaliação, percebeu-se Trendelenburg positivo no lado acometido e, tanto no teste de agachamento quanto no teste de caminhada, ocorria um valgo dinâmico de joelho direito. Também foi verificado encurtamento da musculatura ísquio tibial, além de visível diminuição de tônus muscular em glúteos e coxas do lado acometido.
Vale ressaltar que a corrida ocorreu a apenas uma semana e o paciente, apesar da dor, não perdeu nenhuma função. Portanto, não houve necessidade de uso de órtese e não havia nada que justificasse tamanha perda de força nesse curto período de tempo entre o dia da corrida até a visita ao fisioterapeuta.
Será que, então, isso aconteceu devido ao enorme esforço durante a meia maratona ou devido ao enorme desequilíbrio muscular?
É muito possível que a fratura já era iminente por conta do desgaste gerado pelo desequilíbrio encontrado e, por causa do esforço, tenha se efetivado durante a meia maratona.
Mas qual das possíveis causas das lesões é a verdadeira: a corrida ou os achados clínicos que causaram a lesão?
Preparo e prevenção às causas das lesões
Em todos os exemplos citados no decorrer do texto, as causas das lesões foram possivelmente dois fatores principais: a falta de preparo físico e não buscar de antemão uma avaliação que poderia prevenir seu surgimento.
Por falta de preparo físico entende-se a falta da realização de atividade física regular, como ir a academia, Pilates, funcional, yoga, natação ou qualquer atividade que trabalhe o corpo como um todo.
A prevenção engloba não apenas a atividade física, mas também envolve a procura por profissionais que possam avaliar e direcionar atividades que sejam ideais – a fim de corrigir os desequilíbrios musculares e alterações de postura que a pessoa possa ter.
Já quando o assunto é esporte de alto rendimento, torna-se ainda mais essencial buscar a ajuda tanto de fisioterapeutas quanto de preparadores físicos. Esses profissionais poderão prescrever atividades que visem aumentar o rendimento no esporte, ao mesmo tempo em que se previnem as possíveis causas das lesões.
Conclusão
Levando todo esse panorama em conta, podemos perceber que uma lesão ocorre em situações nas quais a pessoa possui alterações posturais e/ou falta de força muscular. Também nota-se que a falta de força é causada pela falta da prática de atividades físicas que mantenham nosso organismo em equilíbrio e sejam condizentes com as nossas necessidades diárias e os esportes que praticamos.
Por isso, é essencial que todos que identificarem tais problemas em si busquem de antemão ajuda fisioterapêutica. Assim, será possível evitar a permanência de tais fatores e evitar futuras lesões.