Atualmente, as Doenças Cardiovasculares (DCV), como por exemplo, a insuficiência cardíaca (IC), surgem como uma das primeiras causas de morte na atualidade, sendo o maior agravo para a saúde e estando diretamente envolvidas em mais de 17 milhões de mortes a cada ano.
A insuficiência cardíaca, umas das principais DCV é caracterizada pela incapacidade do coração em manter o débito cardíaco de forma suficiente para a demanda dos tecidos do corpo.
Essa incapacidade faz com que pacientes com IC apresentam fraqueza muscular periférica e respiratória, dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, edemas, fadiga e intolerância à atividade física “normal” para a faixa etária.
Essa sintomatologia conduz às limitações na realização das atividades de vida diária e, consequentemente, à perda progressiva de autonomia funcional.
O exercício físico e o tratamento farmacológico são a base para a reabilitação cardíaca (RC) em indivíduos com insuficiência cardíaca.
A Fisioterapia, por meio de exercícios bem prescritos e controlados, é uma das formas de intervenção não medicamentosa que tem se mostrado extremamente positiva.
O que é a insuficiência cardíaca?
A insuficiência cardíaca é uma condição caracterizada por alterações no sistema neuro-humoral e no sistema renina-angiotensina-aldosterona.
Essas mudanças estão relacionadas às disfunções nos controles do sistema arterial barorreflexo, quimiorreflexo central e periférico, reflexo cardiopulmonar e sistema nervoso central.
A insuficiência cardíaca diminui a sensibilidade do controle barorreflexo e do reflexo cardiopulmonar, enquanto aumenta a sensibilidade do quimiorreflexo central e periférico. Níveis anormais de angiotensina II, óxido nítrico e espécies reativas de oxigênio também desempenham esse papel.
Pacientes portadores dessa patologia apresentam hiperativação simpática com sintomas de dispneia e intolerância ao exercício, em razão de um débito cardíaco insuficiente para suprir as necessidades metabólicas do organismo.
Estudos recentes demonstraram que a prática regular de exercício físico melhora significativamente a sensibilidade dos controles barorreflexo, cardiopulmonar e quimiorreflexo central e periférico.
Essas melhorias causadas pelo exercício nesses sistemas de controle autonômico parecem explicar grande parte da redução na atividade do sistema nervoso simpático e a melhora na qualidade de vida em pacientes com IC.
Tipos de exercícios recomendados para pacientes com insuficiência cardíaca
A prescrição adequada de um protocolo de treinamento físico para pacientes com insuficiência cardíaca é de suma importância para alcançar os benefícios desejados com exercícios aeróbicos e resistidos, mantendo os riscos relativamente baixos.
Sendo assim, o plano de tratamento deve ser totalmente individualizado, implementando um programa de exercícios físicos que leve em consideração as comorbidades, as preferências individuais e a classe funcional, com uma mobilização gradual, ou seja, com uma adequada progressão do treinamento.
O plano de tratamento com exercícios físicos (aeróbico e resistido) é contraindicada para pacientes com:
- insuficiência cardíaca classe IV;
- Hipertensão arterial não controlada, descompensada e arritmias;
- Bloqueio atrioventricular de terceiro grau;
- Angina instável, miocardite e pericardite agudas;
- Depressão do segmento ST maior que 2 mm;
- Embolia recente, diabetes mellitus descontrolada, tromboflebite, insuficiência ou estenose mitral ou aórtica graves sem tratamento adequado e outros problemas metabólicos descompensados.
O exercício aeróbico proporciona os principais benefícios aos pacientes com insuficiência cardíaca, porém, associado com exercícios resistidos e de flexibilidade aumentam ainda mais a saúde e qualidade de vida desses indivíduos.
Além do programa de treinamento físico regular, o processo de reabilitação cardíaca deve também estar associado a uma abordagem de estilo de vida, que envolve o incentivo à realização de atividades como subir escadas, atividades domésticas, caminhar, jardinagem e outras maneiras ativas de recreação.
Benefícios da reabilitação física para pacientes com problemas cardíacos
As intervenções utilizadas na reabilitação dos pacientes são em sua maioria feitas com treinamento aeróbico em conjunto com os exercícios de resistência, o qual apresenta resultados benéficos ao paciente, como a melhora da funcionalidade e redução da intolerância ao exercício, além de, principalmente, melhorar a qualidade de vida.
Os exercícios aeróbicos aprimoram a função fisiológica, a capacidade aeróbica e a qualidade de vida de indivíduos com insuficiência cardíaca.
Há ainda estudos que afirmam sobre possibilidades da associação do treinamento resistido ao treinamento aeróbico, sendo responsáveis por gerarem repercussões significativas na saúde do paciente com cardiopatias em níveis funcionais, musculares e de aspecto de vida.
O uso de exercícios resistidos ajudam a aumentar a área de secção transversa do músculo, e tem como repercussão o aumento da força estática, dinâmica e da função muscular.
Esses resultados podem ser vistos através do Teste de 1 Repetição Máxima (RM), por exemplo, geralmente utilizado para determinar a carga que será utilizada individualmente.
Além do treinamento muscular e aeróbio, usa-se o treinamento muscular inspiratório, que visa a melhora do VO2 máximo, a dispneia e a força muscular inspiratória e, geralmente, trabalha-se com várias sessões semanais com intensidades que ficam entre 30% a 60% da pressão inspiratória máxima, sendo realizado em média de 15 a 30 minutos durante cerca de 10 a 12 semanas.
Recomenda-se o uso desse tipo de treinamento para aqueles pacientes que estão descondicionados com o objetivo de iniciar um programa de exercícios que possa progredir para o treinamento físico convencional e se possível, participação em esportes, por exemplo, visando beneficiar o sistema cardiorrespiratório.
Conclusão
Em suma, torna-se indispensável a prática de exercícios físicos aos pacientes com insuficiência cardíaca, devido aos fatores como descondicionamento, fadiga, fraqueza muscular, alterações respiratórias e edemas apresentados, sendo estes potenciais sintomas que desencadearam alterações nas atividades de vida diária, se forem negligenciados.
Com base nisso, observa-se que os exercícios aeróbios se destacam para o treinamento cardiorrespiratório desses pacientes, mas podendo ser associado a exercícios resistidos de carga leve, podendo progredir gradualmente a partir da evolução da condição do indivíduo monitorado.
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