Na primeira edição desse texto vimos sobre a anatomia da Coluna Vertebral, seus principais músculos e patologias dessa região. Agora iremos focar no tratamento dessas patologias, vamos lá?
Em teoria, o tratamento de comprometimentos e limitações nas atividades relacionados aos tecidos da coluna vertebral e do tronco é o mesmo dos tecidos dos membros.
O principal fator de complicação na coluna é a proximidade de estruturas-chave da medula espinhal e raízes nervosas.
É ai que o Fisioterapeuta entra, seu papel é identificar as relações funcionais complexas das articulações facetárias, articulações intervertebrais, músculos, fáscias e sistema nervoso. Além de saber examinar e avaliar a pessoa que se apresenta com dor e limitações funcionais.
Portanto, uma avaliação completa e minuciosa é o primeiro passo para uma reabilitação eficaz, pois é através dela que o objetivo pode ser traçado, visando a completa reabilitação do paciente.
Além da terapia física, recursos terapêuticos são utilizados como coadjuvantes nos tratamentos. Os recursos mais utilizados na fisioterapia são:
Crioterapia
A crioterapia é a aplicação de recursos terapêuticos frios cuja faixa de temperatura está entre 0 e 18ºC. Os efeitos da crioterapia estão relacionados à redução na velocidade do metabolismo celular.
O corpo responde à perda de calor com uma série de respostas locais, que incluem:
- Vasoconstrição;
- Diminuição da taxa metabólica;
- Diminuição da inflamação;
- Diminuição da dor.
O frio pode ser aplicado com segurança na maior parte das lesões musculoesqueléticas ao longo do processo de cicatrização.
Termoterapia
A aplicação de calor terapêutico, conhecida como termoterapia, é classificada como superficial ou profunda.
Para produzir efeitos terapêuticos, os agentes de aquecimento superficial precisam ser capazes de aumentar a temperatura da pele até 40 a 45ºC.
A transferência de calor para os tecidos subjacentes ocorre por meio da condução, porém os recursos de aquecimento superficial são limitados a profundidades de menos de 2cm.
Já os recursos de aquecimento profundo, como o ultrassom terapêutico e a diatermia por ondas curtas, são capazes de aquecer tecidos localizados em profundidades maiores que 2 cm.
Os efeitos do calor da taxa metabólica, na dinâmica do sangue e dos líquidos e na inflamação são, em geral, opostos aos efeitos do frio.
Tanto a aplicação de calor quanto a de frio diminuem a dor e o espasmo muscular por meio da alteração do limiar das terminações nervosas. O uso do calor é indicado nos estágios subagudo e crônico de lesões.
Ultrassom
O ultrassom terapêutico é uma agente de penetração profunda que produz mudanças nos tecidos por meio de mecanismos térmicos e atérmicos (mecânicos).
Diferente da maioria dos outros agentes físicos, o ultrassom não faz parte do espectro eletromagnético, mas utiliza energia acústica.
Os efeitos térmicos do ultrassom são os mesmos descritos para o calor, citados anteriormente, incluindo:
- Aumento da taxa de reparo tecidual e cicatrização da ferida;
- Aumento do fluxo sanguíneo;
- Aumento da extensibilidade do tecido;
- Redução dos depósitos de cálcio;
- Redução da dor e do espasmo muscular.
As diferenças entre o calor superficial e o ultrassom são que o ultrassom aquece tecidos mais profundos e afeta uma área menor.
TENS
O TENS (transcutâneous electrical nerve stimulation – estimulação elétrica nervosa transcutânea) utiliza estimuladores elétricos que emitem correntes pulsadas, com o objetivo de estimular fibras nervosas através da pele utilizando eletrodos estimuladores.
O TENS é uma técnica simples e amplamente utilizada para manejo da dor aguda e crônica, como auxílio da reabilitação.
Laser
O aparelho de laser utilizado na reabilitação é de baixa intensidade, e utiliza uma luz especial monocromática, colimada e coerente.
O laser de AsGa (Arseneto de Gálio), possui maior profundidade de absorção e é indicado para lesões musculoesquelética, apresentando luz invisível.
O laser possui ação terapêutica anti-inflamatória, analgésica, anti-edematosa e cicatrizante.
A seguir, serão descritas as principais condutas de reabilitação utilizadas em cada uma das patologias de coluna.
Hérnia de disco lombar
A hérnia de disco lombar é uma condição que apresenta natureza benigna. O objetivo do tratamento nesses casos é:
- Aliviar a dor;
- Estimular a recuperação neurológica;
- Retorno precoce às atividades de vida diária e ao trabalho.
Os pacientes com hérnias sequestradas, jovens, com leve déficit neurológico, hérnias pequenas e com pouca degeneração discal são os que mais vão se beneficiar do tratamento conservador.
Caso haja também uma dor ciática severa a ponto de incapacitar o paciente, o tratamento inicial deve reduzir a dor gradativamente ao mesmo tempo de aumentar, de forma lenta, a atividade física, sempre evitando o repouso absoluto.
O tratamento conservador inclui Fisioterapia, com técnicas de analgesia e relaxamento, principalmente através de exercícios e alongamentos.
Na fase aguda, deve-se diminuir os sintomas utilizando recursos físicos (crioterapia, TENS, laser e ultrassom terapêutico), massagem, tração ou manipulação conforme a necessidade.
Os exercícios devem ser prescritos visando o fortalecimento da região da musculatura lombar, a ativação neuromuscular e o fortalecimento dos músculos estabilizadores. Se necessário, prover suporte passivo e órteses.
Na fase aguda, enquanto a dor ainda é intensa, deve-se prescrever apenas exercícios isométricos ou ativos livres, respeitando o nível de dor do paciente.
É preciso ensinar a percepção da posição e movimento do pescoço e pelve, com treinamento cinestésico: movimentos cervicais e escapulares, inclinações pélvicas e coluna neutra.
Ainda nessa fase pode-se iniciar a ativação neuromuscular e o controle dos músculos estabilizadores, com técnicas de ativação dos músculos segmentares profundos. Pode-se ainda realizar estabilização básica, com movimentos de braço e perna.
É importante ensinar ao paciente o desempenho seguro de atividades de vida diária básicas:
- Rolar;
- Sentar;
- Ficar em pé;
- Andar em posturas seguras.
Quando os sinais e sintomas do processo inflamatório estiverem sob controle e a dor não for mais constante, o paciente avança para um programa de exercícios com resistência à fadiga.
Além disso, o paciente faz exercícios de fortalecimento visando preparar o tecido para atividades funcionais e o treinamento de reabilitação.
No estágio subagudo, não é recomendado o uso de modalidades físicas para diminuir a dor. A ênfase é no:
- Aumento da percepção postural;
- Força;
- Mobilidade e controle da coluna do paciente;
- Relação com a modulação da dor.
É necessário continuar com os planos de exercícios da fase aguda, avançando para a consciência e controle do alinhamento postural.
É preciso aumentar a mobilidade dos músculos, articulações, fáscias e nervos retraídos através da mobilização e manipulação articular, mobilização neural, inibição muscular e auto alongamento.
Deve-se ensinar técnicas para desenvolvimento do controle neuromuscular, força e resistência à fadiga, avançando com exercícios de estabilização, aumentando as repetições com ênfase na resistência muscular.
Nessa fase pode-se prescrever exercícios de fortalecimento dos membros junto com a estabilização da coluna vertebral.
Ainda na fase subaguda, o Fisioterapeuta pode prescrever exercícios de resistência cardiopulmonar, como exercícios aeróbios de baixa e moderada intensidade, sempre enfatizando a tendência postural.
É preciso ensinar uma mecânica corporal segura nas atividades de vida diária como levantar, empurrar, puxar e alcançar objetos e ensinar técnicas de alívio do estresse, como exercícios de relaxamento e alívio da sobrecarga postural.
Na fase crônica, após o paciente ter sido tratado nas fases agudas e subagudas de recuperação com exercícios graduados de forma apropriada, provavelmente ele terá comprometimento mínimo que não impedirá a realização de atividades diárias.
Caso o tratamento seja feito com pacientes que precisam manusear materiais pesados ou que participe de atividade esportiva de alta demanda, é necessário um programa adicional de reabilitação.
Esse programa irá possibilitar o retorno a essas atividades de forma segura para evitar uma nova lesão.
A conduta pode ser avançada com exercícios dinâmicos resistidos de tronco e membros, enfatizando as metas funcionais.
É importante ensinar o paciente uma progressão segura para atividades de alto nível e alta intensidade, usando um treinamento específico para as atividades coerentes com o resultado funcional desejado, enfatizando controle da coluna, resistência à fadiga, cadência e velocidade.
Se necessário, converse com o paciente para aplicar possíveis mudanças ergonômicas do ambiente de trabalho e domiciliar.
Hérnia de disco cervical
O objetivo do tratamento fisioterapêutico da hérnia cervical deve inicialmente, reduzir a sintomatologia com técnicas de mobilização, tração manual para descompressão do disco
Além disso, possibilitar a reeducação do padrão respiratório diafragmático (pois o uso excessivo dos músculos secundários da respiração impõe cargas compressivas à coluna cervical).
De acordo com alguns autores, os tratamentos conservadores sugeridos são as combinações entre as técnicas de:
- Termoterapia superficial e profunda;
- Crioterapia;
- Massagens;
- Eletroterapia;
- Tração cervical;
- Alongamento;
- Repouso;
- Uso de colar cervical temporário;
- Posicionamento ao dormir;
- Orientação postural;
- Mobilização passiva e Movimentos ativo.
A pompage é uma manobra capaz de tencionar lenta, regular e progressivamente um segmento corporal, sendo indicado para tratamento de hérnia de disco cervical.
Pois ela restabelece o comprimento ideal (de músculos encurtados da região cervical), estimula a circulação de líquidos, espaça as entrelinhas articulares ao longo do segmento e facilita a nutrição da cartilagem articular.
Os alongamentos também são indicados, pois:
- Reduzem a sobrecarga da coluna vertebral, melhorando a capacidade de sustentação de peso;
- Diminuem o estresse físico;
- Restabelece a amplitude de movimento normal das articulações e a mobilidade dos tecidos moles que a cercam, prevenindo contraturas irreversíveis e corrigindo alterações posturais.
O tratamento é similar ao da região lombar (descrito anteriormente) e segue os mesmos princípios.
A tração cervical pode aliviar os sintomas do paciente, porém a tração mantida não deve durar mais que 10 minutos e a tração intermitente, não mais do que 15 minutos.
Lombalgia
Muitos indivíduos com dor, particularmente com lombalgia, reduzem acentuadamente sua atividade física diária e evitam a movimentação, principalmente da região dolorosa. Esses fatos podem causar consequências graves no estado físico e psicológico do doente.
A realização de exercício físico é essencial pare reduzir os efeitos da inatividade. Nos casos de lombalgia aguda, é importante informar ao paciente que a doença possui curso benigno, sendo recomendado que o repouso relativo nunca ultrapasse 2 dias e a realização de atividades dentro do limite de dor.
Em casos de dor aguda, é necessário realizar técnicas de analgesia para diminuição da dor e da inflamação aguda.
Para isso pode-se utilizar:
- Crioterapia;
- Ultrassom terapêutico;
- Laser;
- TENS.
- Em dores crônicas, pode-se também utilizar calor, pois além de diminuir a dor ele ajuda na diminuição do espasmo muscular.
Alongamentos, mobilizações e exercícios leves (ativos livres e isométricos) devem ser incluídos ainda na fase aguda, sempre respeitando a dor do paciente.
Após o controle da dor deve-se prescrever um programa de exercícios mais intensos, com:
- Alongamentos;
- Fortalecimento dos músculos da região lombar;
- Músculos mais estabilizadores da coluna e fortalecimento global.
Com o objetivo de melhorar a força e a resistência muscular, a fim de permitir o normal desempenho das tarefas diárias.
As técnicas descritas na sessão de reabilitação de hérnia de disco lombar podem ser utilizadas no tratamento de lombalgias.
Cervicalgia
O tratamento de cervicalgia segue as mesmas diretrizes do tratamento de hérnia de disco cervical, já descritas anteriormente.
Além de tratar a região cervical, é importante avaliar também a região torácica da coluna de pessoas com deficiências cervicais.
Pois essa região se move durante os movimentos cervicais. Ela também influencia a postura cervical e tem inserções musculares comuns, além de também ser propensa a deficiências de hipomobilidade.
Escoliose
A escolha do tratamento para a escoliose depende da maturidade, da magnitude da curva, da sua localização e do seu potencial de progressão.
O tratamento só é justificado em 0,25% dos indivíduos com escoliose que apresentam risco de progressão da curva.
Em 1941, a Associação Ortopédica Americana avaliou alguns milhares de casos de escoliose, tratados com diversas formas de exercícios e fisioterapia, concluindo que não melhoram a curva existente e nem previnem possíveis prejuízos à saúde.
Os médicos que ainda prescrevem somente esse tipo de tratamento estão cometendo um grave erro e prejuízo para a saúde da criança e do adolescente.
O colete Milwaukee é indicado para curvas de 20º a 40º graus e não deve ser usado em crianças com menos de 4 anos. Em casos entre 40º e 60º o coleto é prescrito apenas se o paciente não aceitar a cirurgia ou em casos onde não pode ser realizada.
Em escolioses com mais de 60º o colete não apresenta eficácia e está indicada a cirurgia.
O Colete baixo, OTSL ou de Boston é um colete de plástico sob medida, tem indicação para escolioses lombares ou toracolombares e é melhor aceito pelo paciente já que não possui a parte de metal exteriorizada na roupa.
Porém, tanto o OTSL como o Milwaukee são caros e fora do alcance financeiro de alguns pacientes, motivo pelo qual pode-se empregar o colete gessado de Risser.
O colete gessado de Risser utiliza uma força de pressão localizada no ápice da deformidade costal. Essa força, na prática, teria sentido posterolateral para se conseguir o objetivo desejado.
Desse modo, com o colete gessado se consegue uma ação pressora, como um ponto de apoio para as trações oblíquas, sendo uma forma direta para a correção da rotação vertebral.
Com o uso prolongado do colete de Risser se consegue a correção da rotação vertebral e da deformidade costal.
O doutor José Ruy Alvarenga Sampaio afirma que o uso do gesso de Risser para o tratamento das escolioses tem dado melhores resultados que qualquer outro tipo de colete.
A vantagem dos coletes do tipo Milwaukee sobre os de gesso é a possibilidade de poder retirá-los diariamente para higiene corporal e exercícios.
Dor ciática
Para tratar a dor ciática é necessário tratar a causa. Levando em consideração que a principal causa de dor ciática é a hérnia de disco, é necessário então traçar um programa de reabilitação para hérnia discal, já descrito anteriormente.
Cuidados e restrições para pacientes com patologias na coluna
Em pacientes que apresentem uma dor severa é necessário tomar cuidado extra, pois nestas situações a terapia pode se tornar uma experiência desagradável, podendo piorar o estado geral do paciente e fazer com que ele abandone o tratamento.
Nesses casos é preciso primeiramente manejar a dor, utilizando recursos para analgesia e realizando movimentos dentro do limite de dor do paciente.
Alguns movimentos devem ser evitados em determinados casos. São eles:
Extensão de coluna
- Contraindicada quando nenhuma posição ou movimento diminuí ou centraliza a dor descrita;
- Contraindicada quando está presente uma anestesia em sela ou fraqueza de bexiga, pois pode indicar lesão medular ou de cauda equina;
- Contraindicada quando um paciente está com uma dor tão extrema que mantém o corpo rigidamente imóvel em qualquer tentativa de correção;
- Posições, movimentos e exercícios de extensão, ou extensão com rotação, são contraindicados quando os sintomas neurológicos ou a dor piorarem com esses movimentos.
Flexão de coluna
- Deve ser evitada quando a extensão alivia os sintomas;
- Deve ser evitada quando os movimentos de flexão aumentam a dor ou levam sintomas para a periferia.
Conclusão
Nessa última parte do texto focamos no tratamento das principais patologias relacionadas a coluna, que são:
- Hérnia de Disco Lombar;
- Hérnia de Disco Cervical;
- Lombalgia;
- Cervicalgia;
- Escoliose;
- Dor Ciática.
Identificando o que o Fisioterapeuta deve fazer em cada caso para auxiliar seu paciente, além de mostrar os cuidados que devem ser feitos para tratar essas patologias.
Artigo muito bom, além de identificar situações fornece todas as terapias a aplicar.
Foi ótimo, pois eu me enquadro no caso da escoliose, mas tenho, artrose, artrite uncoartrose, osteoartrose,osteofitose e mielinólise central da ponte além de de ter les, e TVP E SPT. estou fazendo fisioterapia e esta ajudando.
É normal na primeira sessao sentir muita dor…a profissional ao apertar a lombar doia muito mesmo ..a dor é insuportavel….tenho discopatia ..desgaste ..na lombar …
parabéns pelo belo trabalho
procuro uma clínica q faz termoterapia profunda se alguém souber por favor me avisa no Cel 996554090
achei as respostas que procurava
Fiquei imaginando como é bom saber de tudo isso fabuloso ?
Gostei muito do seu conteúdo sobre FISIOTERAPIA PARA COLUNAS