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A Tendinite patelar, também conhecida como joelho do saltador, ou ainda, na língua inglesa como Jumpers Knee, é uma condição que aparentemente ser inofensiva. Porém, se não tratada adequadamente pode se tornar crônica e diminuir consideravelmente o rendimento do indivíduo, levando a incapacitação da prática esportiva. Em casos extremos, o tendão pode até ser completamente rompido (como aconteceu com o jogador brasileiro Ronaldo).

A incidência é maior no sexo masculino. É uma das doenças do joelho mais comuns em atletas, ocorrendo em até 20% dos que praticam salto. Quanto ao lado acometido, homens e mulheres são igualmente afetados quando ocorre bilateralmente. Quando ela é unilateral, a relação é de dois para um.

A anatomia do joelho

A articulação do joelho é bastante complexa do ponto de vista anatômico e funcional, é  formada pela junção do fêmur, da tíbia e da patela, por ligamentos, meniscos, sendo ponto de inserção musculotendínea, e envolta pela cápsula articular.

A principal função dessa articulação é a de absorver a energia cinética gerada pelo contato dos membros inferiores ao solo e de transmitir o movimento aos demais seguimentos do corpo. Isto se deve a dois mecanismos básicos: a chamada contração muscular excêntrica, onde a fibra muscular contrai e alonga, resistindo ao movimento e aos graus de flexão.

A patela é ponto de inserção de dois importantes tendões: o patelar e o quadricipital. O tendão patelar vai do ápice da patela até a região da tuberosidade da tíbia, e o tendão quadricipital, que é uma continuação do reto femoral, e se insere na base patelar. 

O que é tendinite patelar?

Tendinite Patelar

A Tendinite Patelar é uma condição inflamatória que afeta a fixação do tendão patelar no polo inferior da patela devido ao mecanismo de cisalhamento que ocorre nos movimentos de desaceleração no esporte.

Como ocorre o surgimento da tendinite patelar?

A Tendinite Patelar é geralmente causada esforço repetitivo sobre o tendão patelar e do quadríceps durante atividades de salto, e por desequilíbrio na contração muscular. De certa maneira, o quadríceps deixa de absorver toda a energia cinética, sobrecarregando o tendão patelar, o qual está localizado na região infrapatelar se estendendo até a tuberosidade da tíbia. Devido à sobrecarga, o tendão patelar começa a sofrer microruptura e degeneração.

É uma lesão encontrada em atletas, principalmente aqueles que praticam esportes envolvidos na desaceleração, como futebol, basquete,  vôlei,  handebol, e corrida de rua. Também pode ser encontrada em praticantes de ginástica olímpica, musculação e ciclismo.

Durante uma corrida, por exemplo, a força de reação ao solo, que chega a ser duas vezes o peso do indivíduo é absorvida pela flexão do joelho entre 50 e 60 graus e pela resistência do músculo quadríceps, e o restante é dissipado pelo quadril e coluna vertebral.

São considerados fatores predisponentes para desenvolvimento da Tendinite Patelar, pessoas que possuem peso corporal aumentado, um desalinhamento dos membros inferiores, como:  geno varo e geno valgo, um ângulo Q do joelho aumentado, patela alta, diferença no comprimento dos membros inferiores, e ainda encurtamento das cadeias musculares, principalmente da posterior (isquiotibiais), desequilíbrio muscular e alteração do tipo de pisada.

Sintomas da tendinite patelar

Os principais sinais e sintomas são:

  • Dor e sensibilidade na região infrapatelar
  • Edema no joelho ou onde o tendão patelar se conecta ao osso da perna
  • Dor ao saltar, correr ou caminhar, especialmente ladeira ou escada abaixo.
  • Dor ao dobrar ou esticar a perna
  • Sensibilidade na parte de trás da patela

A dor é de caráter gradual, insidioso, com o aumento da intensidade devido ao excesso de movimentos repetitivos, e geralmente aparece ao término das atividades físicas, e desaparece quando o indivíduo volta a fazer aquecimento ou novas atividades físicas.

As fases da tendinite patelar

Segundo Blazina, a Tendinite Patelar pode ser classificada em:

  • Fase 1 – sente dor apenas após a atividade física, sem prejuízo funcional;
  • Fase 2 – sente dor logo no início da atividade física, embora o paciente ainda seja capaz de executar satisfatoriamente o seu esporte;
  • Fase 3 – sente dor durante e após a realização da atividade física, com piora muito significativa, atrapalhando o rendimento esportivo;
  • Fase 4 – Ruptura completa do tendão patelar, exigindo reparação cirúrgica.

A classificação acima tem a limitação de apresentar apenas três fases de Tendinite Patelar, já que a fase 4 se relaciona com a ruptura do tendão.

Como o overtraining pode ser responsável pelo surgimento da Tendinite Patelar

O overtraining é um desequilíbrio entre a demanda proposta pelos exercícios e a capacidade do organismo responder, isto é, está diretamente relacionado ao esforço repetitivo e a sobrecarga do mecanismo extensor da articulação do joelho devido a falta de preparo físico e consciência do movimento, ao gesto esportivo inadequado, e ao aumento súbito da intensidade e frequência do esporte.

Ainda que aconteça na maioria das vezes com atletas de alto desempenho, ninguém que treina está salvo desta síndrome, que causa alterações metabólicas, afetando o sistema cardiovascular, neuroendócrino, imune e esquelético.

Como funciona o tratamento da Tendinite Patelar através da Ffisioterapia

Os principais objetivos da fisioterapia para Tendinite Patelar são: promover o alívio da dor, auxiliar na diminuição do processo inflamatório, melhorar o sinergismo muscular através do fortalecimento da musculatura, e conscientização do gesto esportivo.

Os melhores exercícios para tratar Tendinite Patelar 

Alongamento muscular

Visa a manutenção ou o ganho da amplitude de movimento e melhora da flexibilidade. O alongamento pode ser realizado de forma ativa ou passiva.

Os músculos flexores do quadril e joelho (isquiotibiais, gastrocnêmio, iliopsoas, reto femoral, adutores), extensores de quadril e joelho (quadríceps, glúteos), banda iliotibial, e o retináculo patelar devem ser rotineiramente alongados, durante a fisioterapia, e dado continuidade após liberação a prática esportiva.

Fortalecimento muscular

É indicado para promover ganho de força muscular, podendo ser usadas as contrações isométrica e isotônica. A contração isométrica é utilizada nos estágios iniciais da reabilitação, usando uma carga de exercícios de 60% a 80% da capacidade de desenvolvimento de força do músculo, preparando a musculatura para exercícios mais complexos. Já a contração isotônica pode ser dividida em concêntrica e excêntrica.

Há evidências de que os ganhos de força, após um programa de exercícios, pareçam similares, embora uma contração concêntrica máxima produza menos força que uma contração excêntrica. Tanto o treinamento isométrico quanto o isotônico, produzem melhorias substanciais na força, porém os métodos isotônicos oferecem resultados discretamente superiores em termos de força muscular, endurance local e hipertrofia muscular.

Os exercícios de fortalecimento visa promover o reequilíbrio e o sinergismo muscular, através de exercícios específicos para ganho de força, tanto da musculatura agonista quanto da antagonista.

O fortalecimento dos músculos quadríceps, ísquios tibiais, glúteos máximo e médio, flexores, extensores, abdutores e dos adutores do quadril, gastrocnêmios, sóleo, são importantes para diminuir a dor causada pela Tendinite Patelar, pois cadeias musculares (anterior e posterior) fortalecidas igualmente, diminuem a sobrecarga do tendão patelar.

Na fisioterapia para Tendinite Patelar são realizados exercícios de:

Agachamento

Considerado um exercício de cadeia cinética fechada, onde os membros inferiores estão fixos no chão. Deve-se ter muita cautela e atenção ao realizá-lo, pois se realizado de forma errada, poderá sobrecarregar o tendão patelar, e a coluna vertebral.

Inicialmente, deve ser realizado de forma isométrica, e depois ir progredindo com retorno a posição de forma excêntrica (“freiando” a volta do movimento), e na fase final, poderá ser realizado em apoio unipodal.  A realização do exercício excêntrico é muito importante na reabilitação fisioterapêutica para Tendinite Patelar.

O exercício de agachamento em superfície declinada é um dos exercícios recomendados desde que realizados de forma correta e sem dor.

Elevações

O uso de pesos livres permite uma maior especificidade do treinamento de força, onde o individuo aprende a controlar tanto o equilíbrio quanto os fatores de estabilização. São considerados exercícios de cadeia cinética aberta, pois os membros inferiores estão livres para a movimentação, enquanto o tronco está “parado”.

Levantamento de Pesos

Podem ser realizados através da mecanoterapia ou utilizando barras livres ou fixas associadas ao agachamento. Porém, estes tipos de exercícios são impróprios para membros muito fracos, pois podem sobrecarregar o músculo em apenas um ponto da amplitude do movimento, quando executado em uma única posição.

No tratamento da Tendinite Patelar a mecanoterapia deve ser muito bem orientada e supervisionada, devendo o fisioterapeuta regular no aparelho a angulação adequada e segura em que o indivíduo não sinta nenhuma dor.

A Importância do alongamento durante o tratamento da Tendinite Patelar

 Em indivíduos que praticam esportes que utilizam o salto, normalmente é evidenciado encurtamento da musculatura posterior da coxa, por isso é muito importante que seja realizado exercícios globais de alongamentos, principalmente para os membros inferiores, sejam eles passivos ou ativos, para não ocorrer a perda da amplitude de movimento da articulação do joelho.

 A preparação para voltar aos treinos

O retorno ao esporte deve ser baseado na ausência de sintomas e na capacidade do indivíduo, com segurança e habilidade executar adequadamente os gestos esportivos específicos. Quando os sintomas persistem apesar do tratamento conservador ou até mesmo tratamento cirúrgico, o indivíduo deverá analisar os benefícios e as consequências de praticar o esporte com dor.

O melhor parâmetro para dizer se o paciente está apto para retornar a prática esportiva é através do exame Isocinético. Este avalia os possíveis desequilíbrios musculares através da análise com dinamômetro isocinético.

Bandagens ou fitas adesivas auxiliam no tratamento da Tendinite Patelar

A bandagem ou aplicação de fitas adesivas na pele, também chamada de kinesiotaping, vem sendo bastante utilizada como método coadjuvante ao tratamento da Tendinite Patelar. O objetivo da aplicação da bandagem é  oferecer estímulo proprioceptivo para dispersar as forças de sobrecarga, reduzindo a dor, estabilizando e minimizando o stress mecânico no tendão patelar.

A fita pode ser aplicada de diferentes formas, pelo fisioterapeuta ou pelo próprio indivíduo. Devendo-se sempre palpar a área para localizar a dor, e de acordo com o objetivo, posicionar a fita seguindo a anatomia das estruturas.

Como proporcionar uma recuperação rápida para o atleta

O programa de reabilitação fisioterapêutica que normalmente, pode durar de quatro a seis meses, em atletas com período curto de sintomatologia, o retorno às atividades esportivas pode levar de dois a três meses. E o objetivo da fisioterapia é reduzir a dor e recuperar a função, e promover o retorno da prática esportiva de forma consciente.

Cuidados especiais para o indivíduo com Tendinite Patelar

Os cuidados especiais são:

  • fazer uma avaliação completa do aparelho locomotor voltada à biomecânica do esporte.
  • promover preparo físico adequado para a prática esportiva desejada.
  • orientação de prática esportiva supervisionada por um profissional capacitado, para que evitar erros no gesto esportivo ou overtraining.

O profissional também deverá sempre se atentar aos sintomas de dor relatado pelo indivíduo, pois a dor persistente durante a prática esportiva é sinal de complicação, predispondo a mais temida lesão, a ruptura espontânea do tendão.

Os casos de ruptura ocorrem normalmente após uma contração abrupta do músculo quadríceps, levando a ascensão súbita da patela e incapacitação imediata à deambulação, e necessidade imediata de reparo cirúrgico.     

Restrições de exercícios para indivíduos com Tendinite Patelar

Até a reabilitação total do indivíduo, é aconselhável diminuir, modificar ou adaptar as atividades que aumentam o stress no tendão patelar, como pular e agachar para evitar stress e sobrecarga direta na região do tendão, evitando que ocorra a sua ruptura.

Os avanços da fisioterapia no tratamento da Tendinite Patelar

No programa de reabilitação da Tendinite Patelar deve ser incluída a correção da biomecânica da aterrissagem após o salto, através da conscientização do movimento e da contração muscular, que irá diminuir o stress no tendão patelar.

É muito importante distribuir a força da carga aplicada ao joelho entre o tornozelo, a perna e o quadril, pois realizar aterrissagem com maior dissipação da energia diminuirá a tensão no joelho e no tendão patelar e pode diminuir a incidência de tendinopatia patelar em atletas saltadores.

A Crochetagem é uma técnica manipulativa considerada de baixo custo e de fácil aplicação, que utiliza ganchos sobre os tecidos lesionados proporcionando a remoção de da fibrose, evitando a aderências, e promovendo o realinhamento dos tecidos.

A Crochetagem vem sendo utilizada dentro da fisioterapia, tratando não apenas a articulação do joelho, mas também toda a musculatura adjacente, proporcionando analgesia e recuperando a amplitude de movimento, podendo assim, auxiliar no tratamento conservador da Tendinite Patelar.

Conclusão

As tendinites patelares são causadas por movimentos repetitivos e por  sobrecarga do aparelho extensor do joelho. Sendo assim, para que ocorra a reversão do processo inflamatório do tendão, é necessário que o indivíduo  diminua, modifique ou adapte as atividades que sobrecarregam diretamente o tendão patelar. A fisioterapia mostrou ser bastante efetiva no tratamento da Tendinite Patelar, proporcionando o retorno, relativamente, rápido a prática esportiva.

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