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A obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura corporal e está frequentemente associada ao sedentarismo e a hábitos alimentares inadequados. Quando mudanças de estilo de vida, como dieta balanceada e prática regular de exercícios, não apresentam resultados satisfatórios, muitos pacientes recorrem à cirurgia bariátrica como alternativa para alcançar a perda de peso.

Esse procedimento reduz o tamanho do estômago e tem se consolidado como uma estratégia eficaz no manejo da obesidade grave. Apesar dos benefícios, pode trazer implicações importantes no período perioperatório. Nesse ponto, a fisioterapia respiratória se torna essencial, atuando tanto no pré quanto no pós-operatório para otimizar a função pulmonar e favorecer uma recuperação mais segura.

A seguir, vamos detalhar os principais objetivos da cirurgia bariátrica em relação à função respiratória e à capacidade funcional, explorando como a fisioterapia atua para prevenir complicações, recuperar a força muscular respiratória, otimizar volumes pulmonares e favorecer uma reintegração segura do paciente às atividades do dia a dia. Boa leitura!

Objetivos da fisioterapia respiratória

Os objetivos da atuação fisioterapêutica vão muito além da prevenção de complicações imediatas. A perda de peso resultante do procedimento, por exemplo, costuma favorecer a melhora da função pulmonar, com aumento da capacidade vital forçada (CVF) e da pressão inspiratória máxima (Pimáx). Ainda assim, a evolução clínica varia conforme a técnica cirúrgica utilizada e a presença de comorbidades.

Outro ponto importante é a redução dos sintomas respiratórios e o ganho de tolerância ao exercício, que refletem na qualidade de vida do paciente. Para monitorar essa evolução, a avaliação funcional deve incluir espirometria, medidas de força muscular respiratória, teste de caminhada de 6 minutos e análise do padrão ventilatório.

Assim, entre os objetivos da fisioterapia estão: prevenir complicações pulmonares como atelectasias e pneumonia; restaurar volumes e capacidades pulmonares; fortalecer a musculatura respiratória; melhorar a capacidade funcional; promover melhora na oxigenação; orientar autocuidados respiratórios; e adaptar a reabilitação às condições clínicas do paciente.

Alterações pulmonares em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica

Atualmente, estudos mostram o impacto da obesidade sobre a função pulmonar, principalmente na redução da Capacidade Vital Forçada (CVF), do Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo (VEF1) e na frequência de agudizações de doenças respiratórias, como a asma.

Um estudo de randomização mendeliana indicou que tanto a obesidade geral, medida pelo índice de massa corporal (IMC), quanto a obesidade central, avaliada pela razão cintura-quadril ajustada pelo IMC, estão associadas a alterações nos parâmetros espirométricos. O aumento do IMC esteve relacionado à redução da CVF e do VEF1, enquanto a razão VEF1/CVF aumentou, sugerindo um padrão restritivo mais acentuado.

Em relação às doenças respiratórias, a obesidade central se associa à ocorrência de asma, evidenciando que a distribuição de gordura corporal, especialmente a visceral, contribui para um estado inflamatório crônico, aumentando fatores de risco e influenciando a fisiopatologia das alterações respiratórias, além do impacto do excesso de peso total.

Do ponto de vista fisiológico, o acúmulo de gordura na região abdominal pode reduzir a complacência da parede torácica, limitar a excursão diafragmática e elevar a pressão intra-abdominal, resultando em diminuição dos volumes pulmonares.

Estudos longitudinais indicam que pessoas com aumento moderado a elevado de peso ao longo da vida apresentam risco maior de declínio acelerado da função pulmonar. Já aqueles que perdem peso conseguem reduzir parcialmente esse declínio, mostrando que o sobrepeso e a obesidade comprometem a saúde respiratória, enquanto a perda de peso ajuda a recuperar parte da função pulmonar.

No contexto da cirurgia bariátrica, evidências recentes mostram que a redução de peso cirúrgica melhora os parâmetros da função pulmonar. Abbasi et al. (2025) demonstraram que pacientes submetidos à gastrectomia apresentaram aumento de CVF, VEF1 e da relação VEF1/CVF, em associação à perda de peso total. Sahin, H. et al. (2025) relataram ganhos nos volumes e capacidades pulmonares em até um ano após o procedimento.

Com menos tecido adiposo abdominal e torácico, o pulmão encontra mais espaço para se expandir, a caixa torácica passa a funcionar de forma mais eficiente e a ventilação alveolar melhora. O procedimento, portanto, não atua apenas na redução de peso e no controle de doenças associadas, mas também contribui para a recuperação da função pulmonar e para uma rotina diária com mais qualidade de vida em pessoas com obesidade grave.

Avaliação da funcionalidade de pacientes pós cirurgia bariátrica

A avaliação funcional de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica considera a capacidade de realizar atividades do dia a dia, a aptidão cardiorrespiratória e a força muscular.

Um estudo longitudinal de Schuh et al. (2023) mostrou que, após a cirurgia, o tempo dedicado à atividade física moderada a vigorosa aumentou gradativamente e se manteve por até cinco anos, embora alguns pacientes não conseguissem sustentar atividades vigorosas acima de 6 METs. 

O número diário de passos e os minutos de atividade em sequência melhoraram inicialmente, mas não permaneceram elevados ao longo do período, enquanto os minutos totais de atividade moderada a vigorosa continuaram a progredir.

O teste de caminhada de seis minutos (TC6’) é um instrumento amplamente utilizado para avaliação funcional. Por ser simples e seguro, mede a distância máxima percorrida em terreno plano durante seis minutos, refletindo a integração das funções respiratória, cardiovascular e muscular no desempenho físico. 

Por ser submáximo, reproduz com mais fidelidade as atividades do cotidiano em comparação a testes de esforço máximo. Durante o procedimento, são monitorados parâmetros como frequência cardíaca, saturação de oxigênio, percepção de esforço e sintomas relatados pelo próprio paciente.

Em um ensaio clínico randomizado realizado no Chile por Cordero et al. (2022), pacientes que iniciaram exercícios moderados um mês após a cirurgia aumentaram significativamente sua distância no TC6’ (de 550 ± 75 m para 649,6 ± 68,5 m), enquanto o grupo controle apresentou progresso mais discreto (de 554,4 m para 591,1 m).

A avaliação da força muscular utiliza testes padronizados que medem tanto a força periférica quanto respiratória. A força de preensão manual, aferida com dinamômetro, é comum para quantificar a força estática. Estudos indicam que, mesmo com redução da massa magra após a cirurgia, a força de preensão tende a se manter.

As pressões respiratórias máximas (Pimáx e PEmáx) também são registradas, especialmente no período imediato pós-operatório, apresentando quedas mais significativas em cirurgias por laparotomia do que em videolaparoscopia. Para os membros inferiores, testes funcionais e isométricos mostram redução da força absoluta a curto prazo, conforme revisões sistemáticas.

Em resumo, a avaliação funcional no pós-operatório de cirurgia bariátrica oferece dados sobre recuperação e adaptação do paciente, contemplando desde a capacidade aeróbia até a preservação da força muscular.

Evidências indicam que, embora haja melhora inicial na prática de exercícios e no desempenho em testes como o TC6’, parte desses ganhos pode não se manter a longo prazo, reforçando a necessidade de acompanhamento contínuo e estímulo à prática regular de atividades físicas.

A monitorização da força muscular, por meio de preensão manual, pressões respiratórias máximas e testes de membros inferiores, é essencial para identificar perdas precoces e orientar intervenções que preservem a funcionalidade e a qualidade de vida do paciente.

Relevância da atuação fisioterapêutica no pré-operatório e pós-operatório da cirurgia bariátrica 

No pré-operatório da cirurgia bariátrica, a fisioterapia prepara o paciente, contribuindo para uma recuperação mais tranquila e ajudando a melhorar a função respiratória e a capacidade funcional. Observa-se que a fisioterapia respiratória e a estabilização postural nesse período ajudam a prevenir complicações durante a cirurgia e no pós-operatório.

Pacientes que receberam fisioterapia antes do procedimento apresentaram melhora na dinâmica respiratória, com maior mobilidade da caixa torácica e consciência respiratória adequada. Isso evidencia a importância da fisioterapia pré-operatória para preparar o corpo e reduzir riscos associados à cirurgia.

No pós-operatório, a fisioterapia continua sendo essencial para a recuperação física e para a adaptação à nova condição do paciente. A prescrição de exercícios físicos e o treino da musculatura respiratória auxiliam na melhora da função pulmonar, prevenindo complicações como atelectasias, e contribuem para a manutenção da mobilidade torácica e da capacidade funcional.

Além disso, a fisioterapia ajuda a recuperar a força muscular e a sensação de bem-estar, acelerando a adaptação do paciente. Protocolos que incluem exercícios respiratórios e motores nos cuidados imediatos favorecem a extubação precoce e reduzem a necessidade de ventilação mecânica prolongada.

Conclusão

Por fim, a cirurgia bariátrica é uma intervenção usada no tratamento da obesidade grave, trazendo benefícios na redução de peso, na função pulmonar, na capacidade funcional e na qualidade de vida dos pacientes.

Apesar disso, o procedimento apresenta desafios respiratórios no período perioperatório, o que reforça a importância de uma atuação fisioterapêutica direcionada e adaptada. Nesse contexto, a fisioterapia, especialmente a respiratória, atua tanto no pré quanto no pós-operatório, ajudando a prevenir complicações, melhorar volumes e capacidades pulmonares, fortalecer a musculatura respiratória e preservar a funcionalidade do paciente.

O uso de avaliações específicas, como espirometria, teste de caminhada de seis minutos e medidas de força muscular respiratória, permite a elaboração de um plano individualizado, ajustado às necessidades de cada paciente e à evolução clínica observada.

A integração da fisioterapia no cuidado multidisciplinar do paciente bariátrico contribui para melhores desfechos, favorece a recuperação da função respiratória e funcional e garante uma transição mais segura para a nova rotina de vida após a cirurgia.

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